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Na dor e na Afliaçăo

Minha mãe e meu pai se conheceram na empresa onde trabalhavam. Meu pai é japonés e, na época, veio do Japão para trabalhar como engenheiro em uma empresa de Manaus.
Nasci no dia 23 de maio de 1981. Quando completei um ano, minha mãe ficou grávida da minha irmã. Tínhamos uma vida financeira boa e tudo colaborava para que fôssemos muito felizes.
Quando completei um ano e seis meses, e minha mãe seis meses de gravidez, meu pai informou que iria fazer uma viagem ao Japão. Ele ficaria trés meses ausente, mas em breve voltaria. Embora minha mãe não quisesse isso, porque estava perto do nascimento da minha irmã, não estranhou a viagem. Ele freqüentemente viajava a negócios para o Japão. Assim, meu pai partiu, e eu nunca mais o vi.
Durante os três meses previstos, ele enviou cartas e minha mãe também lhe escreveu. Com o nascimento da caçula, era importante comunicar-lhe que ela havia nascido com problemas de saúde e minha mãe pedia que ele voltasse o quanto antes para apoiá-Ia nesses momentos difíceis. No entanto, depois dos três meses, ele parou de escrever. Perdemos totalmente o contato. Depois de quase um ano sem notícia, e pensando até mesmo o pior, minha mãe soube que o meu pai estava bem, mas não voltaria. Ele possuía outra família no Japão.
Da situação confortável que tínhamos, pouco nos restou. O apartamento onde morávamos e até os móveis eram da empresa. Minha mãe recorreu à casa de seu pai, meu avô. O único bem que meu pai nos deixou foi uma pequena casa, que minha mãe alugou, para que tivéssemos uma pequena renda.
Os problemas de saúde de minha irmã aumentaram. Impossibilitada de trabalhar e sem recursos para os tratamentos, minha mãe lutou incessantemente em busca de auxílio. Vendeu as jóias que possuía e outros bens, mas ainda não foi suficiente.
Em meio ao desespero e à dor, parecia tão difícil enxergar uma saída. Mas Deus, em Sua infinita misericórdia, enviou um de seus servos até nossa casa e minha mãe recebeu estudos bíblicos dele. Daquele dia em diante, embora os problemas ainda existissem, havia conforto e ânimo em nosso lar. Sabíamos que não estávamos sozinhas, à mercê de nossa própria sorte. Eu tinha quatro anos quando minha mãe foi batizada. Bendito dia! Creio que, se meu pai não tivesse partido, jamais teríamos nos encontrado com Jesus.
A conversão de minha mãe foi completa. Logo, ela se dedicou inteiramente à igreja. Recordo-me muito bem que não houve um dia em que não fizéssemos o culto em nossa casa e nem mesmo
nos faltaram as lições da Escola Sabatina. Quando atingimos a idade escolar, ela entendeu
que devíamos estudar em uma escola adventista. Como não havia condições de pagar duas mensalidades, ela pedia ajuda aos diretores. Pela graça de Deus, minha irmã e eu estudamos
da pré-escola até concluir os estudos na faculdade, sempre em instituições adventistas. Por obra de Deus e ajuda de uma tia abençoada, a quem amo como mãe, e sem dúvida por intermédio de uma mãe que até hoje acorda de madrugada para orar por mim, eu me tornei o que sou hoje.
Após vinte anos sem um companheiro, Deus uniu o caminho de minha mãe novamente ao daquele homem, servo de Deus, que um dia nós mostrou Jesus. Faz’ três anos que eles se casaram. Ela está no terceiro ano de faculdade e minha irmã, totalmente recuperada de seu problema de saúde, é missionária na África. Concluí minha faculdade de pedagogia no UNASP em 2003. Sou professora de pré-escola, casei-me com um educador em 2005 e no próximo mês (abril/2007) chegará nosso primeiro filho. Minha oração é que eu seja uma mãe tal como minha mãe e que eu cumpra com sabedoria meu dever.
Sou grata a Deus pela forma como conduziu nossa vida e por ter tido a oportunidade de aprender que é na dor e nas afliçôes que Deus nos faz fortes e nos torna mais que vencedores em Cristo Jesus.

 

Autor: Mihanna Milhara Bueno
Fonte: Revista Adventista – Março 2007

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