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Apuro no Deserto

Naquela manhã, meu pai se levantou mais cedo. Passou pela despensa, apanhou alguns pães e uma garrafa de água e guardou tudo em uma bolsa. Em seguida, entregou os mantimentos à minha mãe e nos mandou embora de casa.
Eu já esperava por uma bronca: é que realmente havia passado dos limites em minhas brincadeiras como o pequeno Isaque. Mas daí a expulsar-nos de casa… Ah, não, isso já era demais! Minha mãe até tentou argumentar com meu pai; quis convencê-lo de que não arrumaríamos mais problemas, admitiríamos que Isaque era o filho legítimo e eu, Ismael, apenas o filho de uma escrava. Mas que nos botasse dali para fora, como se fossemos animais, pois, afinal, eu, no vigor dos meus 17 anos, também fazia parte do seu sangue…
De nada adiantou. Acabamos sendo mesmo “despejados”. Sem contar com a ajuda de ninguém, fomos para uma espécie de deserto. Em um primeiro momento, senti muita raiva. Raiva de meu pai, daquela sua esposa intragável, do meu irmão, mas, principalmente, raiva de Deus. Como ele podia permitir que acontecesse uma coisa dessas comigo, justamente comigo?! O que seria da minha vida agora? Que futuro eu teria? Pior, como conseguiríamos sobreviver? Minha mente era um turbilhão de perguntas sem respostas, uma névoa que me impedia de ver qualquer solução futura.
Alguns dias depois, a água acabou e a raiva deu lugar ao desespero. Naquele deserto, nem esmolas adiantaria pedir: ninguém nos ouviria. Dois, três dias se passaram sem que engolíssemos uma gota de água. No quarto dia, sem forças, achei a sombra de um arbusto e lá descarreguei meu corpo. Minha mãe deu mais alguns passos e também se largou.
Foi quando me ocorreu um estalo: essa seria oportunidade de “testar” Deus. Se ele era capaz de fazer um homem ser pai aos cem anos, por que não poderia nos tirar daquele apuro? Então, despejei sobre Ele todo o misto de ódio e mágoa que havia acumulado no deserto e implorei ajuda.
De repente, achei que o sol do deserto estava me fazendo realmente muito mal. Ali do lado, conversando com minha mãe, estava um homem alto, todo vestido de branco. Um anjo, será?!
Procurei ouvir o que ele dizia. Era algo mais ou menos assim: “Que tens, Hagar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino, daí onde está. Ergue-te, levanta o rapaz, segura-o pela mão, porque eu farei dele uma grande povo.” Gênesis 21: 17 e 18.
Parecia que estava falando de mim. Sim, Deus estava fazendo uma promessa à minha mãe, como havia feito antes a meu pai, a respeito de Isaque. Então, ele havia me ouvido… Mas, e agora, que tal resolver meu problema?
Enquanto minha mente vagueava, não percebi quando minha mãe se aproximou, me segurou nos braços e arrastou alguns metros, em direção a um oásis, onde havia um poço de água. Não, não era um sonho, nem efeito de miragem. Era real. Deus havia providenciado o nosso sustento. Estávamos salvos!
O tempo se passou e as promessas que Deus havia feito naquele dia no deserto se cumpriram. Havíamos ali e eu me tornei pai de uma grande nação. Fiz as pazes com Deus e nunca me esqueci do milagre realizado, não apenas no que dizia respeito às nossas necessidades vitais, mas também em um plano grandioso, muito mais amplo do que minha mente poderia conceber. Percebi que o Deus de meu pai era muito mais poderoso que eu imaginava. Admiti que Ele sabe de tudo, conhece todos os problemas de Seus filhos e ouve quando eles imploram sua ajuda. Mas o mais importante é que Deus não fica inerte, de braços cruzados. Ele toma os problemas em suas mãos – e, então, os resolve.

Fernando Torres
Espaço Jovem – Revista Adventista

Leia essa historia na Bíblia, em Gênesis 21:14-21.

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