INFINITAS MANEIRAS DE ABORRECER O PRÓXIMO
Em 1963, o escritor e dramaturgo Guilherme de Figueiredo (1915-1997) fez um livro chamado
Tratado Geral dos Chatos, uma espécie de enciclopédia sobre o assunto. Figueiredo, que era
irmão do chatíssimo presidente da República com o mesmo sobrenome, catalogou em um dos
capítulos todos os tipos de chatos que detectou. Veja em qual destas categorias o mala
hospedado dentro de você se enquadra:
Hamletianos
Desastrados bem-intencionados. O autor se inspirou no personagem de Shakespeare que
assassinou seu empregado Polônio sem querer, levou a bela Ofélia à loucura sem intenção e
acabou matando todos os amigos e a própria mãe. Mas não foi por mal.
Catalítico
Aqueles que não precisam fazer nada para serem chatos. Sua simples presença basta. Mesmo
sem se moverem ou falarem, emitem partículas de chatice que giram ao seu redor, os
chamados anéis de Chaturno.
Vivissectólogos
Aqueles que não conseguem contar um caso sem fazer uma digressão, sem voltar atrás, sem
entremear uma história com outra. Para falar de uma salada de frango, têm que mencionar o
nome do dono da granja.
Tartufoclocos
Instalam-se na casa alheia. Exemplos: parentes do interior, cunhados, sogras e amigos de
infância. Inspirado em dois personagens inconvenientes da história do teatro, Tartufo, de
Molière, e Clo-Clo, de Marcel Achard.
Postulantes
Os que têm sempre uma encomenda a fazer, seja uma peça para o computador (“Já que você
vai mesmo a Nova York”) , seja um cigarro para fumar depois.
Ofertantes
Aparentemente, são o oposto da categoria acima. Dizem sempre “Você manda, não pede”, e
“Disponha sempre!” Mas depois emendam “Isso eu não posso fazer. Quem sabe numa
próxima?”
Catequéticos
Os que tentam nos catequizar. O tempo todo querem converter-nos à sua religião, ao seu
partido, ao seu time de futebol, ao seu esporte preferido. O autor não cita a Amway.
Pirotécnicos
Identificáveis por expressões do tipo: “Como vai essa força?!” Dão muitos abraços, tapas nas
costas e usam pontos de exclamação em toda as frases!
Artesanais
Estão sempre dispostos a consertar qualquer coisa, sejam lâmpadas, isqueiros, relógios ou
computadores. Irritantemente habilidosos.
Faisões
Usuários compulsivos do pronome “eu”. Só sabem falar de si mesmos.
Confidenciais
Os que pensam saber as notícias de primeira mão. Geralmente seguram você pela ombro e
contam coisas óbvias, que todo mundo já sabe.
Otelos
Têm ciúme em excesso, e não só do cônjuge, mas também dos amigos. Ficam ofendidos
quando não são chamados para um almoço ou um cinema, mesmo que não pudessem ir.
Dom-juanescos
Paqueradores compulsivos, costumam se gabar de suas conquistas com os amigos. Sabe o
“tio” da Sukita? Então. É ele.
Iagos
São invejosos e escolhem uma vítima – escritor, músico ou político – para alvo permanente.
Muitos críticos profissionais pertencem a esta categoria.
Sursumcordistas
Fazem promessas. Invariavelmente otimistas, dizem coisas como “A coisa vai melhorar”.
Gratitudinenses
Sempre lembram que você lhes deve algo. Suas frases típicas são “Troquei muito a sua fralda”
e “Ajudei muito o seu pai quando ele estava em dificuldade”. O duro é quando o gratitudinense é
também postulante.
Logotécnicos
São os que gostam de falar palavras difíceis, termos técnicos ou trocadilhos. Como você deve
ter percebido por essa classificação, é nesta categoria que se enquadra o autor do livro, embora
ele mesmo não soubesse disso.
Unílogos
Aqueles que só têm um assunto. Por exemplo, são capazes de ocupar várias páginas de um
site apenas para falar sobre chatice.
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