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HONESTIDADE

 

Que é honestidade?

Honradez, probidade, integridade, qualidade daquilo que é conveniente. Honestidade é agir com decência.

Deus tem elevadas normas para a sua Igreja quanto aos princípios de fidelidade e honestidade, como deduzimos de II Crônicas 16:9: “Os olhos do Senhor passam por toda a Terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é perfeito para com Ele”.

Francisco Patti, conhecido jornalista de São Paulo, disse há algum tempo numa palestra pelo Rádio, que todos nós precisamos ouvir falar de justiça e direito, ao menos uma vez por semana.

Parafraseando a declaração deste homem de letras, creio que nossos jovens, deveriam ouvir com mais freqüência, preleções sobre as virtudes cristãs como nobreza, fidelidade, abnegação, humildade, diligência, justiça, honestidade.

 

A Palavra Honestidade e a Bíblia

 

Aparece a palavra honestidade na Bíblia?

O adjetivo honesto aparece em 7 passagens: Gên. 42:11, 19, 31, 33, 34; Prov. 21:8; Tito 2:5 e 1 Pedro 3:2.

O substantivo honestidade não se encontra na Bíblia, mas o seu significado é bastante evidente das seguintes declarações: Lev. 19:35 e 36. “Não cometereis injustiça no juízo, nem na vara, nem no peso, nem na medida. Balanças justas, pesos justos, efa justo, e justo him tereis”. Prov. 11:1.

“Balança enganosa é abominação para o Senhor, mas o peso justo é o seu prazer”.

Em Fil. 4:8 a idéia de honestidade está latente em algumas declarações.

Rom. 13:13 aparece na Almeida Atualizada assim: “andemos dignamente”.

Heb. 13:18 reza na mesma tradução – “viver condignamente…”

Estes dois advérbios de modo v – euskemonos e v – kalôs são traduzidos na King James por honestamente.

Em II Cor. 8:21, temos no original grego a expressão: pronosúmenoi kalá, que poderia ser traduzida, nós nos propomos a coisas boas, e que vem traduzida com propriedade na Almeida Atualizada: “pois o que nos preocupa é procedermos honestamente.”

 

A Honestidade é Inata ou Adquirida?

 

Há pouco tempo (isto foi escrito em 1957), um Colégio nos Estados Unidos, realizou experiências para verificar a honestidade e outras qualidades afins em seus estudantes.

Foram formulados vários testes, com a finalidade de verificar se os jovens agem com a mesma honestidade, quando estão a sós e quando estão sendo observados; se evitam apoderar-se do que pertence a outros; se devolvem prontamente os objetos tomados emprestados; se restituem os artigos achados aos seus donos; se recusam a aceitar troco a mais que lhes é dado por engano.

Um grupo de rapazes foi observado durante três meses, sem o saberem, sendo colocados em situação em que podiam ser desonestos. Durante este período os resultados foram anotados. Após este prazo, os moços foram colocados sob os cuidados de alguns líderes dos escoteiros, que os estavam educando, mas também sem saberem que estavam sendo treinados com um objetivo especial. Como sabemos, o sistema dos escoteiros procura inculcar os ideais de lealdade, de honestidade, de confiança, de desprendimento e muitos outros atributos.

Depois de três meses, os rapazes foram submetidos a novos testes, da mesma espécie dos usados antes do treino com os escoteiros. Os resultados alcançados foram comparados com os anteriores, e a conclusão a que chegaram é que houve grande melhoria em seu procedimento. Outra conclusão ainda mais importante a que chegaram os orientadores destes testes foi esta: os ideais de honestidade, lealdade, justiça e outras qualidades análogas, podem ser inculcadas e desenvolvidas num grupo de jovens.

Prezados amigos estudantes, um dos objetivos primordiais da educação cristã é desenvolver nos jovens estas qualidades, por isso, através de palestras, de leituras, de semanas de oração, de conselhos particulares, do exemplo dos educadores; esta instituição se esforça para que adquirais estes atritos em vossa estada aqui, sendo lá fora mais tarde um exemplo dignificante a um mundo tão carente destes predicados.

 

Quais as Vantagens da Honestidade?

 

Ela traz tranqüilidade de consciência e calma de espírito, tão necessárias para o perfeito equilíbrio na vida.

Aquele que cultiva a honestidade, goza do conceito e da simpatia de todos.

Se todos fossem honestos a vida seria muito mais fácil e agradável.

Pensemos em algumas vantagens:

Não seríamos enganados.

Deixaríamos nossas coisas em qualquer lugar sem receio de que elas desaparecessem.

Dormiríamos com as portas abertas.

Os fiscais seriam supérfluos.

Não haveria falsificação de dinheiro, remédios e de tantas outras coisas.

 

Algumas Manifestações de Desonestidade

 

a) Trabalhando uma hora e registrando duas.

Quem faz isto está aviltando sua consciência.

b) Ao tomarmos alguma coisa emprestada e nos fingirmos de esquecidos para não devolver.

Esta atitude revela falta de caráter.

c) Quando compramos alguma coisa e o vendedor, por engano, nos devolve troco a mais. Se não restituirmos aquela importância estamos muito afastados desta virtude.

d) Ao passar uma escritura, quem diminui o valor da compra para pagar menos imposto demonstra a sua desonestidade.

e) O procedimento dos estudantes em várias circunstâncias, como as seguintes:

Em apresentar um trabalho de outro como lhe pertencendo.

Pedir que um colega lhe faça as redações.

A principal desonestidade entre os estudantes é a “cola”.

Tão generalizada está esta atitude indigna, que existem até professores que facilitam aos estudantes usarem de meios ilícitos.

Colocar presença para estudantes ausentes.

Numa classe do curso de especialização em lingüística para professores, o seu dirigente, notável professor de nossa capital, mandou que os presentes assinassem o nome de colegas ausentes na lista de chamada. Como membro desta classe fiquei chocado com o procedimento daquele professor.

Embora esta atitude seja muito comum em certas escolas, há ainda muitos que contra ela se levantam.

Em 1954, setenta alunos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, foram suspensos em virtude da falsificação de assinaturas nos livros de freqüência. Eles receberam uma suspensão de três dias para cada assinatura falsa. A Folha da Manhã do dia 09/11/54 publicou o nome dos setenta alunos implicados neste ato desonesto. Só temos palavras para louvar os nobres intentos da douta congregação, para eliminar estas irregularidades e ensinar aos estudantes de Direito, que sua vida deveria ser pautada pelos elevados princípios da Verdade, da Honestidade e da Justiça.

O Cardeal D. Jaime Câmara, falando há pouco tempo, através de uma emissora, disse que um dos principais males da nossa terra é a desonestidade. Eis suas palavras textuais:

“Não será por falta de leis nem de órgãos oficiais, que o Brasil nunca chega a melhorar de sorte, mas sim por falta de honestidade, pela impunidade dos que se locupletam sobretudo quando ocupantes de cargos púbicos. E tão generalizada se tornou a opinião de que não é pecado roubar no governo, que muitos chegam a estender tal mentalidade a todos os demais setores da atividade humana”.

A Gazeta do dia 16/11/1955 trouxe excelente artigo de Plínio de Rezende Pinto, mostrando a nossa situação decadente. Diz ele “que os políticos oferecem em caminhões: ovos, tomates e cebolas em troca do voto. Eles ludibriam o eleitor com promessas falazes e mentirosas. Assinala que grupos intermediários compram barato e vendem caro ao consumidor, furtam no preço, no troco, na balança, na qualidade, na caderneta, conjugando o verbo furtar em todos os tempos e modos”. Mais abaixo ele declara: “Não se educa, não se aconselha, não se corrige com prosa fiada. É preci

so dar o exemplo. O homem tem de ser virtuoso. Não basta alardear honestidade. É preciso ser honesto em todos os atos da vida”.

 

Se Há Tantas Vantagens na Honestidade,

Por Que Há Tantos Desonestos?

 

Existem desonestos como existem vadios e muitos outros defeitos humanos, por culpa da degenerescência, da fraqueza de caráter, enfim por causa do afastamento das normas divinas.

Amigos estudantes, lembrai-vos de uma declaração do pensador patrício Renato Kehl em seu livro Conduta, livro que deveria ser lido e seguido por todos os que desejam palmilhar o caminho do bem.

“A desonestidade é cultivada pelos fracos infelizes e pessoas que não tiveram boa educação”.

Certo estou de que nenhum de vós gostaria de ser classificado com estes adjetivos humilhantes, mas, se formos desonestos eles nos cabem.

 

Exemplo de Pessoas Honestas

 

A história da humanidade está repleta de exemplos dignificantes de pessoas que souberam cultivar esta nobre virtude.

1) Sócrates.

Seu discípulo Platão, que lhe escreveu a biografia conta-nos episódios do seu viver, que encerram ensinamentos de moral e de honestidade impressionantes na sua trajetória retilínea, na qual Cristo conduziu os homens 400 anos depois através do preceito e do exemplo.

Platão declara que Sócrates pode ser chamado o “Pai da Honestidade” pelo seu caráter ilibado. Um incidente apenas, ocorrido no apagar das luzes da sua existência é uma evidência insofismável desta virtude cristã.

Quando seus inimigos o obrigaram a tomar a cicuta, ao esta estar fazendo efeito em seu organismo, enquanto seus discípulos choravam aquela perda irreparável, ele exclamou: “Críton, devo um galo a Asclépio, por favor não se esqueça de pagar essa dívida”. A expressão “O Galo de Asclépio” é sinônimo na história grega de um comportamento retilíneo e exemplar, ou de honestidade.

2) Abraão Lincoln.

Lincoln é o presidente símbolo da honestidade.

A vida de Abraão Lincoln, presidente dos Estados Unidos de 1860 a 1865, é a história empolgante de um lenhador humilde que se tornou paradigma para todos os concidadãos de sua pátria. Alcançou sua fama através de nobilitantes exemplos de uma luta honesta e perseverante para o bem-estar dos seus patrícios.

Contam-nos seus biógrafos, que quando rapaz trabalhava como caixeiro num pequeno armazém. Descobriu certo dia que dera a uma freguesa uns centavos de troco a menos. Após fechar o armazém, caminhou a pé mais ou menos cinco quilômetros para restituir aquela quantia, quase que insignificante. Este comportamento era uma prova convincente do seu feitio moral, por isso, baseado neste ato e em outros congêneres foi apelidado de Abraão – o honesto.

Infelizmente, este homem que se tornou o símbolo da lealdade, da honestidade e do patriotismo, virtudes que fizeram a grande nação americana, desapareceu vítima de uma bala assassina no dia 13 de abril de 1865, cinco dias depois do término da guerra civil.

Tristão de Ataíde, em artigo inserto na Folha da Manhã de 12/08/1951, sob o título “Honestidade” enaltece sobremaneira esta virtude naquele grande país.

Eis algumas de suas declarações:

“Estamos diante de um povo visceralmente honesto. O norte-americano começa por confiar na pessoa. Supõe que os outros sejam honestos, como ele mesmo é. Tudo se faz aqui na base da confiança recíproca. Os jornais ficam expostos à venda e ninguém tira sem deixar os seus cinco centavos. Os embrulhos são depositados junto às caixas do correio nas calçadas e não se perdem. O correio recebe cheques da maior importância. Não há extravios”.

Note bem: Este artigo foi escrito há 31 anos. Hoje as coisas não são bem assim.

3) Martim Francisco.

Informa-nos a História do Brasil de um incidente, envolvendo três pessoas de prol, aparentemente insignificante, mas que nos mostra a probidade de um Ministro da Fazenda e fornece aos que lidam com o dinheiro público um lídimo exemplo de honestidade.

José Bonifácio, a figura primordial dos nossos homens públicos do Primeiro Império, como ministro recebia o ordenado de Cr$ 400.000 por mês. No dia do recebimento de um de seus salários, guardou o dinheiro em baixo da carneira do chapéu. À noite foi ao teatro, deixando o chapéu no cabide de entrada, quando voltou não encontrou nem dinheiro nem chapéu.

Informado do ocorrido, D. Pedro ordenou ao Ministro da Fazenda, Martim Francisco, irmão de José Bonifácio que lhe pagasse novamente o salário. O Ministro da Fazenda se recusou terminantemente a cumprir a ordem do Imperador ponderando, que o Estado não pode responsabilizar-se pelos descuidos de seus funcionários. Acrescentou ainda que o ano tem doze meses para todos e não doze para uns e treze para outros. Para ajudar na solução do problema Martim Francisco apresentou a seguinte solução: ele daria a metade do seu salário ao irmão e os dois fariam uma economia forçada aquele mês.

D. Pedro concordou com o alvitre proposto, e os dois irmãos viveram parcimoniosamente aqueles trinta dias subsequentes, legando às gerações futuras um exemplo salutar e dignificante de honestidade para com o erário público.

4) O caso do juiz Iochita Iamaguchi.

Ele trabalhou num tribunal em Tóquio. Com sua fanática lealdade nipônica, submetia-se religiosamente ao regime de racionamento, que vigorava em seu país.

Um dia a esposa sussurrou aos ouvidos do esposo a conveniência de venderem algumas roupas usadas, para comprarem no câmbio negro, alguns alimentos mais do que os permitidos pela estrita dieta imposta pela lei. O juiz não censurou a esposa pela sugestão, mas pacientemente explicou que como magistrado, impossível se lhe tornava semelhante negócio. A esposa ouviu tudo e seraficamente concordou com ele, pois se era o aplicador da lei devia ser o primeiro e o mais impoluto dos seus observadores.

O pai do juiz, alguns dias mais tarde, ao ter notícia de que o filho estava definhando de fome, comprou no câmbio negro alguns alimentos e os remeteu ao membro do tribunal de Tóquio. O juiz recebeu o presente, examinou-o e compreendeu o gesto do pai. Devolveu-lhe, porém, o pacote. Um juiz não tinha o direito de aceitar nenhum presente, mesmo paterno, desde que soubesse ter sido adquirido por processos contrários à lei.

Assim ele continuou a definhar, obrigando a esposa a mesma situação. Afinal, vencido pela subnutrição, adoeceu. Ficou tuberculoso, mas no curso da enfermidade escreveu em seu diário.

“A Lei de Controle de Alimentos é uma lei errada. Entretanto, enquanto ela for lei o povo tem obrigação de lhe prestar obediência. Há juízes, eu sei, que compram no mercado negro, fingindo, não obstante serem limpas suas mãos. Quando penso que sou sozinho a marchar para a morte com uma folha de serviços realmente pura, esqueço-me de todos os aborrecimentos e de todas as tristezas”.

Depois de escrever isto esperou pacientemente pela morte, e morreu em outubro último (1947) como uma suave labareda que se apaga por falta de óleo, com apenas 36 anos.

Os japoneses se comoveram com o exemplo dignificante, mas se confortaram com a sua pureza de vida.

Mas a esposa do juiz fez uma observação que correu mundo e que foi noticiada pelos jornais de São Paulo do dia 14/12/1947 sob a seguinte epígrafe: “A Tragédia de um Juiz Honesto”. Disse ela:

“Nesta época é horrível ser casada com um homem honesto”.

Este juiz embora não fosse cristão parecia pautar sua vida pelos conselhos da Palavra de Deus em: Rom. 12:17; I Pedro 2:12; II Cor. 8:21.

É difícil ser honesto no meio dos desonestos, mas é aí que se prova o caráter.

No Brasil há outro aspecto característico da decadência da sociedade, é o regime da cavação. Nada se consegue sem ser cavado. A exceção é o merecimento, a regra é o arranjo, o protecionismo, o filhotismo, o pistolão, enfim uma organização para conse

guir as coisas por processos indignos.

A pergunta que vem a nossa mente é esta. Não haverá uma maneira de frear a decadência da nossa sociedade da rota tortuosa da abjeção, da hipocrisia e do cinismo. Há sim, um remédio apenas, e este consiste no retorno da humanidade para os princípios deixados por Cristo no Seu evangelho.

Sempre pensamos que esta situação é característica apenas de nossa pátria, mas no dizer do grande historiador H. G. Wells, ela é mundial e se originou neste século como conseqüência do progresso científico e dos novos métodos de exploração mecânica. Há muita facilidade em ganhar dinheiro e fortunas fabulosas apareceram do dia para a noite e muitos nesta competição, lançaram mão de métodos não recomendáveis pelos padrões divinos.

Estes pensamentos nos lembram as sempre citadas, mas evidente também sempre oportunas palavras de Rui Barbosa escritas em 1923:

“De tanto ver triunfar as nulidades.

De tanto ver prosperar a desonra.

De tanto ver agigantarem os poderes nas mãos dos maus,

o homem chega a desanimar-se da virtude,

a rir-se da honra,

a ter vergonha de ser honesto”.

O que escreveria Rui hoje, olhando para os desbragamentos da nossa sociedade?

 

Conclusão

 

Como fecho às considerações deste importante tema, apresentarei o apelo aparecido em Meditações Matinais do dia 27 de junho de 1956, pertencente a Ellen G. White:

“Lidai honesta e justamente no presente mundo mau. Alguns serão honestos quando vêem que a honestidade não porá em risco seus interesses mundanos; todos, porém, quantos procedem segundo esse princípio, terão seus nomes apagados do livro da vida.

“Devemos cultivar estrita honestidade. Não podemos passar pelo mundo senão uma vez; não nos é possível volver aqui para retificar os nossos erros; portanto, todo passo que damos deve ser dado no temor de Deus, e com atenta consideração”.

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