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CONSELHOS AOS GINASIANOS

 

 

Dignos obreiros que nos honrais com a vossa presença.

Professores amigos deste educandário.

Diletos ouvintes.

Bondosos formandos do ginásio de 1955.

 

Durante quatro anos, juntos estudamos um pouco do nosso belo e difícil idioma, e agora desejais que vos diga algumas palavras de incentivo e conselho, que vos ajudem na prossecução de vossos ideais.

Escolhestes um lema sugestivo, indicando que tendes um alvo e a firme decisão de o alcançar.

A frase que escolhestes como lema: “Prosseguir sempre; recuar nunca”, resume tudo o que eu poderia dizer-vos em longo e exaustivo discurso.

Certa ocasião, falando a esta garbosa mocidade Iaense, sobre o valor de termos um alvo e um lema na vida, fiz referência ao lema do benemérito brasileiro Oswaldo Cruz “Não esmorecer para não desmerecer”. Foi impulsionado por esta frase prestigiosa, que conseguiu extinguir a terrível febre amarela do Rio de Janeiro, lutando com a incompreensão reinante naqueles idos.

Vejo meus prezados estudantes, uma íntima relação entre o lema do eminente cientista patrício e o vosso.

Estudando a história das nações e de muitos indivíduos isoladamente, veremos que viveram sob a influência mística e estimuladora de um lema sugestivo.

O vosso lema é expressivo e emulativo, mas de nenhum valor será para vós se for apenas uma frase formal e decorativa; urge que envideis os melhores esforços para que se concretize em plena realidade diante dos embates da vida.

Encontrareis, prezados amigos, na continuação de vossos estudos, problemas, contratempos e percalços, que quererão impedir que atinjais o alvo colimado, mas para vencê-los tendes o querer, a tenacidade, a constância e um dos maiores bens da humanidade – o entusiasmo.

Observando a vida dos grandes heróis da ciência, das artes, das letras, e das conquistas, veremos que todos alcançaram seus ideais, não sem lutas e dificuldades, mas estas foram superadas graças a força de vontade de que estavam possuídos. Esta frase: “Quem quer pode, quem tem vontade alcança”, será muito significativa para vós se a puserdes em prática.

O Cardeal Richilieu costumava dizer que a palavra impossível não tinha razão de figurar no dicionário. E Napoleão Bonaparte era, ainda, mais contundente, pois afirmava firmemente: “Impossível é uma palavra que apenas se encontra no dicionário dos tolos”.

Não tenhais ilusões: Nada de belo, útil e glorioso conseguiremos sem esforço decidido e pertinaz.

Todos os que alcançaram posições privilegiadas foram pessoas de querer, pois quem não tem força de vontade retrocede diante das primeiras dificuldades na vida.

Tende confiança, em 1º lugar em Deus e depois em vós mesmos e realizareis o que hoje julgais impossível. A vida deve ser o esforço constante para o aperfeiçoamento, sem que o desânimo jamais se verifique.

A grande crise que o nosso país enfrenta, no momento em que ides ter acesso aos segundos ciclos longe de vos amedrontar, deve servir de estímulo a prosseguirdes na carreira estudantil até alcançardes o alvo a que vos tendes proposto.

Infelizmente, prezados jovens, o que temos visto nos poucos anos de magistério é que a maioria dos estudantes não põem o coração nos estudos, apenas fazendo uma preparação, rápida, desordenada e tumultuária para os exames.

A finalidade única de muitos educandos é somente serem promovidos, alcançarem um diploma, pensando que este tem em si um poder milagroso que faz a pessoa ser vitoriosa. Por isso existem muitas pessoas que têm conseguido um diploma por meios escusos, como prova de sua indigna formação moral.

Os estudantes que pensam em apenas adquirir um diploma, em breve verão desmoronar seus ideais como se desmorona a casa construída sobre a areia.

Disse o inesquecível Rui:

“É a assiduidade na educação metódica e sistemática de nós mesmos o que descobre as grandes vocações e amadurece os grandes escritores, os grandes artistas, os grandes observadores, os grandes inventores, os grandes homens de estado”.

Enquanto pensávamos nas palavras que vos diria nesta noite de gala e grande significação para vós e vossos familiares, compulsei novamente o discurso do insigne brasileiro Rui Barbosa – “A Oração aos Moços”. Cada vez que lemos esta peça de oratória, de eloquência e de saber mais nos convencemos de que não há páginas mais sublimes, mais extraordinárias e mais profundas em nossa literatura do que estas.

E se quereis prosseguir, amigos ginasianos, dou-vos um conselho: lede, relede e analisai este discurso e as vantagens advinhas serão inefáveis para o vosso viver futuro.

Rui madrugava para estudar e prosseguiu estudando a vida inteira. Se desejais uma vitória brilhante nas lides intelectuais segui o exemplo daquele que pairou nos píncaros da cordilheira das mentalidades nacionais.

Deveis estar cônscios de que as vitórias fáceis não têm valor. As vitórias que entusiasmam são as conseguidas com esforço denodado, estável e persistente.

Aqueles que recuam ante as primeiras dificuldades, revelam tibieza no caráter, fraqueza na vontade e negligência nos propósitos; falhas que não se coadunam com uma mocidade, intrépida e valorosa como sois vós.

Sede ambiciosos, visai mais alto do que a maioria da humanidade. Alguém poderá estranhar aconselhar-vos a terdes ambição, mas a ambição é daquelas palavras que têm sentido negativo e positivo, e é neste último sentido que a estou empregando. Tende a ambição justa e verdadeira, pois é ela a força irresistível que vos ajudará na conquista do ideal.

O lema escolhido mostra a vontade que tendes de prosseguir. Lembrai-vos, porém, de uma frase de Goethe, o insigne autor do Fausto e a figura máxima da literatura alemã que diz: “É necessário ter um grande alvo e a perseverança para o alcançar.”

Os que retrocedem do meio da jornada demonstram que são pusilânimes e fracos, mas espero que vós sejais corajosos e fortes.

Esta doutrina é bíblica, pois o Livro inspirado nos diz, que os que lançam mão do arado e olham para traz, não são aptos para o Reino dos Céus.

A palavra de Deus está falando da vida espiritual, mas o mesmo se dá no terreno material e intelectual, pois os estudantes que param no meio do caminho sem razões plausíveis, são indignos da confiança que neles, seus pais e professores, depositaram.

A Pátria e a causa evangélica muito esperam de vós estudantes valorosos e promissores.

Fitai sempre mais longe e mais alto, e se quiserdes a íngreme escada do saber, empreendei a marcha sem medo subir nem desfalecimentos.

Para realizardes vosso intento, deveis ter confiança em vós mesmos, mas sobretudo confiança no poder de Deus e em Seus desígnios para convosco.

Neste momento solene, pedimos a este grupo amigo, que estude com mais afinco e amor do que tem feito nestes quatro anos.

Os estudantes, que almejam atingir o alvo com brilhantismo, precisam de uma convivência diuturna e incansável com os livros.

Em vista de estarmos falando a estudantes, temos enfatizado bastante o valor do estudo, mas queremos fazer bem claro que os valores espirituais e morais sobrepujam os intelectuais, pois o valor de um homem não se mede por sua cultura e capacidade, mas incontestavelmente por seu caráter e por sua formação moral.

Por isso exaltai, cultivai e praticai as virtudes que farão a vossa felicidade e a de vossas famílias.

A vida só tem valor, quando em cada ato de nossa existência, visamos o bem-estar dos outros, o nosso aperfeiçoamento e a honra e a glória de Deus.

Tende o coração agradecido aos esforços feitos por vossos pais e educadores.

Não deixeis transcorrer as horas inutilmente, mas empregai bem cada minuto de vossa vida.

Se atingirdes alvos elevados e posições privilegiadas não vos esqueçais de que dev

eis continuar sendo comedidos e modestos.

Meus amigos, já é tempo de finalizar minhas palavras, mas não o farei sem agradecer-vos a distinção que me fizestes para servir de intérprete dos vossos mestres, que desejam a todos um futuro promissor, esperançoso e de perene felicidade.

Sede felizes, o que quer dizer sede bons, porque não existe felicidade sem bondade.

Prossegui na carreira estudantil, confiando e perseverando, sem recuo diante das batalhas do saber e que os vossos nobres e elevados ideais sejam abençoados por Deus.

 

Palestra proferida no dia 14 de dezembro, de 1955, como paraninfo do Ginásio.

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