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CIVISMO E PATRIOTISMO

 

 

Por termos sido indicados para cuidar das atividades cívicas do I.A.E., proferimos mais ou menos a seguinte palestra, na capela de cultura geral, em março de 1960.

“Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. S. Mateus 22:21.

Esta declaração de Cristo nos mostra que temos deveres para com a Pátria. O bom cristão tem o dever moral de amar a sua pátria e cultivar o civismo.

Creio que não temos dado o devido valor ao civismo entre nós, por isso a finalidade principal da nossa palestra é pedir a cooperação e a ajuda de vocês para incrementar o civismo nesta escola.

Como organização cremos que toda a autoridade vem de Deus e que ele estabeleceu o governo civil para nossa proteção e o cumprimento da sua vontade, portanto o governo merece o nosso respeito.

Seria interessante fazer a diferença entre civismo e patriotismo.

Civismo é a atitude moral, o procedimento honesto do verdadeiro patriota, e consiste não só no cumprimento exato dos deveres que a Lei impõe e a sociedade exige, na cortesia recíproca entre os homens, como também no de prestigiar a Pátria no seu nome augusto e nos símbolos que a representam, concorrer para a disciplina e boa harmonia social, correspondendo a todo apelo que se lhe faça em obediência a deveres cívicos.

Civismo pode ser sinônimo de virtude, de sentimentos que fazem o bom cidadão.

Pode ainda ser definido como a dedicação ou devotamento à causa pública.

Patriotismo é o sentimento radical pelo qual o homem se prende, para todo o sempre, à terra em que nasceu, devotando-se-lhe pelo trabalho, que a melhora e engrandece e sacrificando-se por ela se preciso for.

Patriota é o cidadão que se devota ao engrandecimento da Pátria, que procura exaltá-la por meio de uma vida de real utilidade. Os patriotas pertencem a todas as classes indistintamente, civis e militares, pobres e ricos, letrados e incultos, confundindo-se no ideal comum de colocar os ideais da Pátria, acima dos próprios interesses.

Se consultarmos os dicionários, eles, em linhas gerais, afirmarão que civismo é patriotismo e vice-versa, porém, um estudo mais especializado das duas palavras nos mostrará algumas nuanças de significação.

Sinteticamente seria: Patriotismo é o amor, enquanto civismo é o respeito que devemos ter para com a Pátria. Um prende o homem à Pátria pelo coração, o outro pelo dever.

Este verso de Bilac nos mostra o que é patriotismo.

“Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste.”

O conhecido sociólogo Fernando de Azevedo nos dá um belo conceito e definição de patriotismo:

“A terra, berço e túmulo das gerações cujos olhos se embeberam nas mesmas paisagens, e cuja vida se alimentou nas mesmas fontes, a cada geração, modificada nos seus aspectos naturais, pelo esforço humano que lhe imprimiu uma fisionomia particular, com suas culturas, suas construções, suas cidades, seus túneis, suas estradas e suas próprias destruições.

“Assim, o apego é terra em que habitamos, de que vivemos, em que guardam os despojos das gerações anteriores, e se erguem as obras de toda ordem que perpetuam os seus esforços e estimulam constantemente novas iniciativas, é, em última análise, o culto das tradições comuns e dos antepassados”.

Patriota não é só o guerreiro que está disposto a dar a vida em defesa do seu torrão natal; patriota é o legislador que no recesso do seu gabinete consome dias e noites no estudo das leis que devem estabelecer a eqüidade e o bem-estar entre os homens; patriota é o político que se vale do cargo que lhe atribuíram para trabalhar em benefício da coletividade e não em benefício próprio; patriota é o médico dedicado (mas como são escassos hoje) que passa a noite, se preciso for, aliviando os males que afligem a humanidade; patriota é o operário laborioso que labuta diuturnamente para prover as necessidades da família, ao mesmo tempo em que em seu anonimato está colaborando para a grandeza do pais, finalmente para não nos estendermos a outras classes de obreiros dedicados, patriota é todo aquele que se consome para legar à sua Pátria um nome magnífico, destarte contribuindo para que ela seja respeitada por outros países.

O patriotismo é a paixão cívica, que tem feito imarcescível glória de tantos heróis preeminentes na história das nações.

Civismo consiste em respeitar os símbolos nacionais, que são a bandeira, o escudo e o hino.

Três eminentes vultos da nossa pátria: Rui Barbosa, Olavo Bilac e Coelho Neto multo se impressionaram com a falta de civismo e patriotismo dos brasileiros.

Detectando esta triste realidade, eles se lançaram em campanhas de âmbito nacional para conscientizar o nosso povo sobre a necessidade de cultivar estes atributos nacionais. Desta tomada de posição surgiram campanhas contra o analfabetismo, defesa do serviço militar obrigatório, propugnação pelo escoteirismo entre nós.

Através da palavra falada e escrita eles divulgaram seus oportunos conceitos. Dentre muitos dos seus escritos merecem destaque os Mandamentos Cívicos de Coelho Neto, que a seguir transcrevemos.

 

Mandamentos Cívicos

 

1º) Honra a Deus amando a Pátria por no-la haver Ele dado por berço, com tudo o que nela existe de esplendor no céu e de beleza e fortuna na terra.

2º) Considera a bandeira como a imagem viva da Pátria, prestando-lhe o culto do teu amor e servindo-a com todas as forças do teu coração.

3º) Honra a Pátria no passado: sobre os túmulos dos heróis; glorifica-a no presente: com a virtude e o trabalho.

4º) Instrui-te, para que possas andar por teu passo na vida e transmite aos teus filhos a instrução, que é dote que se não gasta, direito que não se perde, liberdade que se não limita.

5º) Pugna pelos direitos que te confere a Lei, respeitando-a em todos os seus princípios, porque da obediência que se lhe presta resulta a ordem, que é a Força suave que mantém os homens em harmonia.

6º) Ouve e obedece aos teus superiores, porque sem disciplina não pode haver equilíbrio. Quando sentires o tentador refugia-te no trabalho, como quem se defende do demônio na fortaleza do altar.

7º) Previne-te na mocidade economizando para a velhice, que assim prepararás de dia a lâmpada que te há de iluminar à noite.

8º) Acolhe o hospede com agasalho, oferecendo-lhe a terra, a água e o fogo, sempre, porém, como senhor da casa: nem com arrogância que afronte, nem com submissão que te humilhe, mas serenamente sobranceiro.

9º) Ouve os teus, que têm interesse no que lhes é próprio, reservando-te com os de fora. Quem sussurra segredos é porque não pode falar alto, e as palavras cochichadas nas trevas são sempre rebuços de idéias que se não ousam manifestar ao sol.

10º) Ama a terra em que nasceste e à qual reverterás na morte. O que por ela fizeres por ti mesmo farás, que és terra e a tua memória viverá na gratidão dos que te sucederem.

Relacionados com os mandamentos cívicos se encontram os deveres cívicos que a seguir transcrevemos.

 

Deveres Cívicos

 

A. de Sampaio Dória, em seu trabalho “O Que o Cidadão Deve Saber” resume em 10 os deveres do cidadão, que visam o engrandecimento da sua Pátria. Ei-los:

1º) Amar a Liberdade.

“A liberdade é a suprema prerrogativa da natureza humana”.

2º) Defender a Pátria.

Este dever não compreende apenas o alistamento militar, mas o cultivo da saúde e vigor físico e, sobretudo mediante uma vida de labor produtivo cooperar para o engrandecimento da Pátria.

3º) Pagar Impostos. Isto não implica apenas satisfazer a exação tributária, mas evitar a sonegação, considerando-se que o imposto é uma contribuição em troca dos serviços públicos que o Estado assegura.

4º) Votar.

A escolha dos mandatários, quer para os
postos executivos, quer para os legislativos, é um dever cívico de alta monta. É pela abstenção ou desinteresse eleitoral que surgem os governos de usurpação e incompetência.

5º) Cooperar na Política.

Isto em sentido elevado, construtivo, significa, acima de tudo, uma pregação de princípios sociais engrandecedores da nação, a escolha dos elementos mais credenciados para a gestão do múnus público, e renúncia de favoritismos, empreguismos ou outras vantagens que possam onerar indevidamente o erário público.

6º) Servir no Júri.

Dos mais delicados é este dever que nos torna, num certo sentido, julgadores do próximo. Na verdade, o objetivo da justiça é hoje mais no sentido da recuperação do delinqüente e assim podemos dar a parcela de nossa contribuição neste sentido.

7º) Respeitar a Lei.

Diz Sampaio Dória: “A lei, a que nos referimos é a expressão prática da justiça, a garantia positiva da liberdade… A lei é prova de alta cultura cívica, e bem se poderia aquilatar da civilização de um povo pela estima em que tem o principio da autoridade legítima”.

8º) Fiscalizar a Execução da Lei.

Prossegue Dória: “Mas não basta respeitar a lei. A coerência nos impõe fiscalizar a execução da lei”. Cada cidadão deve ser um guardião do cumprimento dos textos constitucionais e das demais leis, e ajudá-las a produzir efeitos em favor dos oprimidos, na defesa da liberdade e na aplicação da justiça.

9º) Falar Bem a Sua Língua.

Aduz o Prof. Dória: “Falar, com desprezo, o próprio idioma, maculá-lo de estrangeirismo inúteis, por mais peregrinos, deturpá-lo de solecismos e asperezas, é, nada mais e nada menos, uma vergonha”. Não se exige que todos conheçam a língua com todo o primor, mas podemos falá-la na simplicidade e na pureza de suas tradições elegantes.

10º) Cultivar a Civilidade.

Diz o autor a que nos referimos, que o cultivo da civilidade envolve dois elementos, um negativo e outro positivo. “O negativo é não se intrometer ninguém na vida íntima dos outros… O elemento positivo está na gentileza e sinceridade do trato, na lealdade e distinção, com que se satisfazem as próprias aspirações, em meio dos egoísmos contrários.

Estes Deveres Cívicos foram transcritos da Revista Mocidade, Fevereiro de 1962, página 6.

Em seu Breviário Cívico, o mesmo Coelho Neto nos ajuda a compreender o que sejam Pátria, Bandeira, Escudo e Hino.

Pátria – É certa porção de terra ande soam as palavras de um idioma e persistem os hábitos, as tradições, o culto e a lei de um povo, cuja vida se perpetua em uma história.

Que é Bandeira? É um pano e é uma nação, como a cruz é um madeiro e toda uma Fé.

O Escudo – É como o próprio coração da bandeira, resumindo todos os símbolos nela contidos.

O Hino – Ouvi-lo é sentir pulsar o coração da Pátria, de cuja vida é o ritmo.

 

Campanha em favor do Civismo em São Paulo

 

Um grupo de homens e mulheres, liderados pelo Professor Admir Ramos, lançou em São Paulo a campanha de Educação Cívica. Seu presidente declarou aos jornais que o patrimônio mais valioso do seu grupo era a inteligência e a disposição firme de trabalhar para que a campanha alcançasse seus nobres e elevados ideais. Eis as palavras textuais do seu presidente:

“O grupo vem se reunindo, diuturnamente, para o lançamento da Campanha. Esta tem como finalidade cultivar o amor pátrio, que existe no coração de todos os brasileiros. É preciso, através de uma pregação constante, fazer compreender que a Pátria – além de ser a terra em que nascemos, falamos o mesmo idioma, temos as mesmas tradições e nos identifica onde quer que estejamos – nos impõe deveres e obrigações muito sérias. A Campanha de Educação Cívica entende que os direitos que nos outorga a Constituição de sermos cidadãos livres é um postulado, é coisa sagrada e por isso indiscutível. Por isso vai a Campanha cogitar dos deveres e obrigações dos brasileiros, em relação à Pátria baseados neste decálogo:

Civismo é:

I – Amar a Pátria e promover o seu progresso;

II – Prestar serviço é comunidade;

III – Criar justiça social e oportunidades para todos;

IV – Tomar atitudes em defesa da brasilidade;

V – Saber eleger e fiscalizar os eleitos;

VI – Compreender e ajudar os jovens para que se tornem cidadãos conscientes;

VII – Combater a demagogia, a subversão e a corrupção;

VIII – Ser honesto no trabalho, no comércio e na administração;

IX – Erradicar a miséria e a ignorância;

X – Reformar o que está errado, dentro da disciplina, da ordem e da lei.

Esclareceu ainda o Professor Admir Ramos:

“Serão promovidos concursos entre estudantes, trabalhadores, escritores e artistas, tendo por objeto cada um dos itens do decálogo. A Campanha terá caráter eminentemente popular e por isso todas as pessoas que realmente amam o Brasil devem dar-lhe seu apoio irrestrito. Como a Campanha necessita de recursos financeiros para o seu desenvolvimento, o decálogo impresso em várias cores e tamanhos, será vendido nas lojas, fábricas, escolas, lares, logradouros públicos, para ser colocado em lugar de destaque para que meditem nele antes de cada jornada de trabalho”.

Apesar dos nobres e elevados ideais de seus organizadores, esta meritória campanha parece que pouco conseguiu realizar no terreno prático e objetivo.

O Brasil pela fertilidade do seu solo, pela exuberância de seus recursos naturais, pela capacidade realizadora de muitos de seus filhos, há multo devia ter-se projetado no Cenário das nações, se todos os seus habitantes lutassem denodadamente com civismo e patriotismo pelo engrandecimento de sua terra.

Queremos um patriotismo autêntico e real e não um falso ufanismo das grandezas pátrias, como o de Afonso Celso (Porque me Ufano do meu País), que cria uma imagem ilusória que em nada contribui para a grandeza nacional.

Pela apresentação feita até agora, conclui-se que todos os cidadãos possuem direitos e deveres para com a Pátria.

 

Respeito às Autoridades Constituídas

 

Dentre nossos deveres cívicos encontra-se o de respeitar as autoridades constituídas, porque esta é uma determinação bíblica de acordo com a leitura introdutória de Mat. 22:21, e ainda de Rom. 13:1-7 e I Ped. 2:13-17.

As bases para obedecer aos poderes seculares e respeitá-los podem ser expressas em três aspectos de acordo com Paulo:

1º) O governo civil é instituição divina – Rom. 13:1-2.

O crente que se opõe à autoridade terrena está desobedecendo a Deus.

2º) O governo civil tem a missão de promover o bem e prevenir o mal – Rom. 13:3-4.

O cristão deve obedecer ao magistrado, porque a este, nas mãos de Deus, cumpre manter a ordem, louvando o bem e punindo o mal.

3º) O governo civil tem a aprovação da consciência cristã – Rom. 13:5.

Este respeito às autoridades não lhe deve ser consagrado, quando as leis civis se opõem às leis divinas. Como organização sempre defendemos a separação da Igreja e do Estado, pois como ressaltou o líder adventista Milton Wilcox: “A própria combinação de um bom Estado e uma boa Igreja, resulta sempre numa tirania político-religiosa”.

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