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DISCURSO SEM VERBOS

 

 

D. Antônio de Macedo Costa

 

Primeira regra de estilo, uma das principais e porventura a mais esquecida de todas: a naturalidade, por oposição à afetação ridícula.

Quanto autor no galarim da fama, réu desse delito, e quantos oradores, aliás dignos de encômios pelos dotes singulares de seu engenho e imaginação, responsáveis perante a crítica sisuda, por falta de uma nobre simplicidade no estilo e boleio de suas frases!

Muita atenção, orador noviço, para este ponto capital! Nada de ornatos supérfluos, apegados como parasitos a uma palavra: miserável ouropel por cima de pensamentos muitas vezes ocos, sem solidez alguma, só para engano da vista de espíritos superficiais ou de mau gosto.

Um brilho fosforescente e um deslumbramento passageiro como de um jogo de artifício – tal o único mérito desses campanudos oráculos do púlpito cristão.

Idéias, porém, sólidas, bem deduzidas, ordem rigorosa de raciocínio, doutrinas exatas lealmente expostas, isso nunca! Não assim os Bossuets, os Bourdaloues, os Massiluns e todos os outros grandes da eloquência do púlpito do grande século de Luís XIV.

Que nobre simplicidade! Que naturalidade sublime! Que opulenta sobriedade! Qual rio caudaloso por entre margens ora severas e escarpadas, ora floridas e risonhas, mas sempre formosas de naturalidade, assim o pensamento desses famosos gênios por entre a frase, ora simples, ora mais ornada, sempre, porém, em relação com o assunto, cheia de graças ingênuas, de louçainhas despretensiosas.

Ministros do Altíssimo, culpados dessa espécie de profanação da palavra santa! Desgraçados de vós por esse abuso tão estranho dos dons de Deus e das graças do nosso divino mistério! Mas, nem mais palavras! Sobre desvios como esses, só lágrimas e muitas lágrimas!

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