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EDUCAÇÃO – SEU VALOR INDIVIDUAL E COLETIVO

 

Mui dignos diretores e administradores deste educandário. Prezados professores.

Amáveis familiares e amigos dos formandos, que aqui tendes vindo, para abrilhantar com a vossa presença, esta solenidade de formatura.

Diletos concluintes do Curso Ginasial e Científico.

Não sendo vosso paraninfo, não irei fazer discurso de paraninfo. Sendo outras as circunstâncias da minha escolha, para orador desta noite, outro também será o teor de minhas considerações.

Muito se fala de educação em nosso país, sendo mesmo um tema de palpitante atualidade, porque tem que ver com o desenvolvimento e o progresso de nossa pátria, daí a razão de o focalizarmos numa festa de formatura.

Dei como título a minha singela palestra:

A educação – Seu valor Individual e Coletivo.

Tema amplo demais para ser desenvolvido em alguns minutos, mas desejo, prezados ouvintes, apenas apresentar algumas ligeiras e esparsas idéias, ou facetas deste magno problema.

Que é educação?

Para Spencer, educação é a preparação para a vida completa.

Para Bertrand Russel: Educação é um elemento formador de cidadãos, de personalidades distintas.

A etimologia da palavra, multas vezes, é excelente fator de esclarecimento.

A palavra educação vem do verbo latino educere, que quer dizer conduzir para fora, extrair, ou seja, despertar no ser humano elementos positivos, que nele se acham dormentes, e extinguir ou abafar os elementos negativos, que se encontram em todos nós.

Quase sempre educação é confundida com instrução, mas são coisas distintas.

Instrução consiste na aquisição de conhecimentos, enquanto educação implica na modificação do comportamento.

Se a escota não fizer com que haja mudança em nosso procedimento, em nossas atitudes, então não se operou nenhuma educação.

Ilustremos com um caso real a diferença entre instrução e educação.

Certa vez, na Grécia antiga, um ancião foi assistir a um espetáculo. Sendo que as arquibancadas estavam repletas, o idoso cavalheiro passou pelos atenienses, sem que ninguém se levantasse para ceder-lhe o lugar. Chegou aonde estava um grupo de espartanos, que imediatamente se levantaram para ceder-lhe o assento. Este gesto chamou a atenção de todos os espectadores, ao que um espartano se levantou e exclamou: “Os atenienses sabem que se deve respeitar a velhice, mas nós os espartanos respeitamos a velhice!”

Os atenienses foram instruídos a respeitarem a velhice, mas seu procedimento não se alterou, enquanto os espartanos além de instruídos, comportaram-se de acordo com a instrução recebida, isto é, foram educados.

Descobrir fatos fora de nos, é instrução; realizar valores ou qualidades dentro de nós, é educação.

Se a instrução é a luz da vida, como declarou alguém, a educação é a própria vida.

Os adventistas a definimos da seguinte maneira: “Educação é o desenvolvimento harmônico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais”.

 

Valor da Educação Para o Indivíduo

 

A educação opera resultados surpreendentes, alcançando mesmo vitórias prodigiosas sobre as limitações humanas.

O exemplo de Helen Keller é universal. Cega, surda e muda, ergueu-se pelo poder da educação, acima das suas próprias deficiências sensoriais, e a sua personalidade, seus méritos pessoais, sua fé na humanidade, e seu otimismo contagiante, projetaram-na como uma das figuras exponenciais do nosso século.

Anísio Teixeira, notável educador patrício, de capacidade inconteste, lembra que a escola “não é mais do que um esforço para redistribuir os homens pelas diversas ocupações e meios de vida, em que se repartem as atividades humanas”.

Em outras palavras – educação seria prover aos educandos os elementos necessários para o eficiente desempenho de uma profissão.

Quão longe está a nossa escola de atingir este desiderato, devido ao seu feitio eminentemente teórico, embora hoje muito se fale em educação técnica, em ginásios vocacionais e ginásios com orientação para o trabalho.

A escota deve proporcionar ao educando, a aquisição de atitudes e aspirações, para que ele saiba dirigir-se de modo elevado e digno, mas para isto, é necessário que a educação seja equilibrada e correta, porque a educação errada é mais prejudicial do que nenhuma educação.

A educação provê para o jovem uma escala de valores, a fim de que ele seja equilibrado em todas as suas decisões.

Ela contribuí também para a unidade nacional, desde que um dos papéis fundamentais da escola, é formar no homem a consciência da Pátria.

Como Organização Religiosa cremos e ensinamos “que nada é de maior importância do que a educação de nossas crianças e jovens”.

Sim, defendemos a educação, mas esta dentro dos preceitos de Deus, de conformidade com os ensinos sábios e eternos das Escrituras Sagradas.

Nossos Colégios são diferentes por insistirem na educação religiosa e cremos estar certos, porque os maiores cérebros humanos reconhecem que a religião confere à vida alta significação, proporcionando-nos uma vida interior que vitaliza a nossa existência, enobrece a natureza humana, dando-nos simpatia pelo próximo, e o desejo de atingir a perfeição divina, consoante o alvo proposto por Cristo nos Santos Evangelhos.

Cremos ainda, que apenas a educação cristã, poderá salvar os nossos jovens da incredulidade que assola o mundo, e formar no educando um caráter, que possa resistir às ondas de imoralidade, que campeiam infrenes em nossa sociedade.

Cremos, senhores, que a preparação escolar não consiste em acumular informações e conhecimentos teóricos, mas desenvolver no educando completa compreensão da vida, e uma eficiente preparação prática para enfrentá-la com otimismo, alegria e desejo de servir.

A propósito, desejo lembrar-lhes um incidente, passado entre Mahatma Gandhi e dois jovens, porque ele se assemelha em muitos aspectos é vida em nossa colina Iaense.

Os moços procuraram a Gandhi, porque queriam ser preparados e educados pelo grande líder hindu.

O notável mestre, para experimentá-los, encarregou-os de varrerem o pátio, rachar lenha, descascar batatas, lavar a louça, limpar as instalações sanitárias.

Esta rotina se processou por diversos dias. Os rapazes estavam ansiosos a espera do momento do aprendizado intelectual e religioso.

– Finalmente, já impacientes, perguntam a Gandhi: quando iria começar a verdadeira preparação para a vida?

– Já começou, respondeu o insigne mestre, mas falta apenas uma coisa.

– O que é que falta? Perguntou um deles.

Calmamente Gandhi respondeu:

– Falta apenas que vocês façam com espontânea alegria e entusiasmo o que até agora fizeram a contragosto e compulsoriamente.

Os rapazes não resistiram à prova, e, decepcionados, retiraram-se no mesmo dia, perdendo assim, a excelente oportunidade do convívio e do aprendizado, com uma das maiores figuras do nosso século.

Se tivessem aprendido a fazer com alegria e dedicação aqueles pequenos deveres, isto os capacitaria a fazer mais tarde grandes obras.

Sintetizando ainda o valor da educação para o indivíduo eu diria: Educação é a finura no trato, a amabilidade nas palavras, é o ambiente tornado agradável, comunicativo, operoso. É a identificação com a norma áurea proposta por Cristo: “Tudo quanto pois quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vos também a eles”.

Um estudante educado, que sabe traduzir no exterior, os princípios eternos da Santa Bíblia, possuidor do espírito de obediência, de respeito à disciplina, que aprecia o trabalho útil, enfim um jovem de caráter digno, tem sido o ideal proposto por esta escota.

 

O Valor da Educação Para o País

 

O problema educacional é hoje o de maior relevânci

a para todas as nações. Para ele se voltam as mais altas mentalidades dos povos cultos, cada qual procurando encaminhá-lo e resolvê-lo de maneira acertada.

Para nós brasileiros, este problema torna-se mais assoberbante, porque ainda não vencemos aquela fase inicial, a alfabetização do nosso povo.

Em muitos estados a questão do ensino tem sido relegada para plano inferior, daí o panorama melancólico e doloroso do atraso econômico e intelectual de algumas unidades federativas do nosso Brasil.

A confirmação nós a temos no Estado de Alagoas com mais de 80% de analfabetos, aí reside, quem sabe, a principal razão de se resolverem os problemas, pela violência, naquelas paragens.

Tão grave é o problema do analfabetismo, que os líderes políticos e os homens lúcidos e esclarecidos concluíram, que o nosso regime político é um arremedo do governo do povo pelo povo, porque nos falta precisamente, a base das verdadeiras democracias, a instrução do povo para o discernimento da escolha.

Felizmente, os nossos homens públicos estão acordando para este problema transcendental, a educação do povo, haja vista a incrementação do ensino secundário em nosso estado, pois na semana passada, apenas em escolas oficiais 240.000 estudantes prestaram exame de admissão.

Hoje não é suficiente alfabetizar, é preciso educar, preparar a nossa mocidade para uma parte mais decisiva nos destinos da Pátria.

Almejamos em breve, o dia em que o ensino secundário seja obrigatório e gratuito, a exemplo de países que se têm projetado entre as demais nações.

O dinâmico e esclarecido ex-presidente dos Estados Unidos, Kennedy, infelizmente tão prematuramente desaparecido, graças a sua visão de estadista, percebeu que países como a Rússia e o Japão estavam se projetando, celeremente, porque seus governantes tiveram como escopo primordial aperfeiçoar seu sistema educativo.

Sentindo uma situação de inferioridade educacional e  científica em sua nação, Kennedy concitou as elites de seu  país, para que se impressionassem com a necessidade de melhor uma  educação.

Disse taxativamente aos congressistas o seguinte: “E uma nação livre não poderá elevar-se mais do que o padrão da excelência de suas escolas e colégios”. Outra ocasião, falando aos alunos e professores do Colégio de San Diego, na Califórnia, afirmou: “Nenhum país poderá manter-se, a menos que disponha de cidadãos instruídos, cujas qualidades de espírito e coração lhes permitam participar das complexas e importantes decisões, que se exigem não só do Presidente e do Congresso, como também de todos os cidadãos que servem ao poder supremo”.

Senhores, poucas vezes, um Presidente de tanta notoriedade há de ter falado com tanta nitidez e propriedade sobre assunto de tamanha relevância.

Consoante a afirmação de Carneiro Leão: “Não há grande povo sem um processo sério de educação”.

Venturosamente, o importante problema educacional brasileiro, vai encontrando espíritos esclarecidos e superiores, que se dispõem a enfrentá-lo, com entusiasmo verdadeiramente patriótico.

As autoridades brasileiras estão convictas, de que só a educação do povo poderá projetar o Brasil a uma posição privilegiada entre as grandes nações do mundo.

Esta campanha deve empolgar, não apenas o governo, os congressistas, as elites intelectuais, os educadores, mas também os homens de empresa, os negociantes, os agricultores, os operários, enfim todos os brasileiros de qualquer classe social.

É preciso lutar na imprensa, no rádio e na televisão, nos parlamentos, nas entidades religiosas e profissionais, na cátedra e no púlpito, em recintos fechados e na praça pública, para que o governo gaste mais com a educação, a fim de que o povo seja despertado para este problema que nos angustia e deprime.

Formandos desta norte, está provado que o desenvolvimento econômico e o futuro da nossa Pátria dependem da educação, mas, infelizmente, esta ainda não está a disposição da juventude brasileira.

Sois um grupo privilegiado, prezados concluintes do Ginásio e do Científico, porque fazeis parte de uma minoria que em nossa Pátria pode concluir estes cursos, mas quero lembrar-vos de que, todo o privilégio traz consigo responsabilidade, por isso, neste momento desejo conclamar-vos a que vos integreis àqueles brasileiros que estão empenhados na defesa desta meritória, patriótica e nobre cruzada.

 

Discurso feito para os formandos dos Cursos Ginasial e Colegial, no dia 20 de dezembro de 1967.

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