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Fábulas do século 21

O Código Da Vinci, Evangelho de Judas, elo perdido… O ser humano continua fugindo da verdade e se agarrando em ilusões

O sucesso do filme “O Código Da Vinci”, a publicação do conteúdo do pergaminho conhecido como Evangelho de Judas e a descoberta de novos fósseis tidos como “elos perdidos” colocaram lenha na fogueira da discussão em torno da autoridade das Escrituras Sagradas. Será a Bíblia o único relato confiável sobre a vida de Jesus? E o Gênesis, estaria com a razão, quando o assunto é a origem da vida?  O CÓDIGO DA CONTROVÉRSIA Talvez a melhor postura a se adotar com relação ao livro de Dan Brown, O Código Da Vinci (que inspirou o filme homônimo), fosse a do jornal L’Osservatore Romano, que resenhou o filme e colocou como título do texto “Muito barulho por nada”. A Folha de S. Paulo do dia 25 de maio, no artigo “Código do barulho”, sugere que tratar o livro e o filme de Brown como “uma ficção rocambolesca de segunda linha, confusa e inverossível” é o que se deve fazer para minar “a propagação de temas e interpretações indigestos”. Concordo. O problema é que tem muita gente assistindo ao filme e achando que é tudo verdade… Que Constantino inventou a divindade de Cristo no Concílio de Nicéia. Que foi esse concílio que determinou que livros deviam ser incluídos no Novo Testamento. Que Jesus casou com Maria Madalena e teve uma filha. Que uma organização secreta foi encarregada de preservar esse “segredo do Jesus verdadeiro”. E mais um bocado de outras “revelações”. Brown, baseado em livros apócrifos gnósticos, sustenta que, após a crucifixão de Jesus, Maria e a filha deles, Sara, partiram para a Gália (França), onde teriam fundado a linhagem dos reis merovíngios. O autor diz ainda que essa dinastia perdura até hoje na misteriosa organização conhecida como Priorado de Sião, entidade secreta que tinha os Templários como braço militar. Há até a suposição de que Leonardo da Vinci, Isaac Newton e Victor Hugo tenham figurado entre os membros dessa organização. Tudo com uma base histórica firme como geléia. Carlos Alberto di Franco lembrou, em julho de 2004, no jornal O Estado de S. Paulo, algumas críticas de respeitáveis jornais estrangeiros a respeito do livro de Brown: El Mundo chama-o de “um livro oportunista e pueril”; The New York Times, de “um insulto à inteligência”; Weekly Standard, de uma “mixórdia de narrativas inimagináveis”; The New York Daily News declara que o livro contém “erros crassos, que só não chocam um leitor muito ingênuo”. O problema é que há muitos leitores ingênuos. Milhões deles. O Jornal do Brasil, do dia 16 de dezembro de 2004, publicou um artigo de Ives Gandra Martins. A certa altura, ele declara: “No mundo da informação comprovada e dos acessos às fontes, como admitir que se consiga desvendar um segredo não revelado – de 2 mil anos! – de que Cristo teve uma filha? Ou que nas vidas altamente investigadas de Boticelli, Leonardo da Vinci, Boyle, Newton, Victor Hugo, Debussy e Cocteau seus investigadores não descobriram que eles eram grandes mestres de uma fantástica sociedade secreta denominada Priorado de Sião, cuja função era guardar o segredo da filha de Jesus? Todos os historiadores do mundo não descobriram o que o oportunista Dan Brown descobriu em investigações cujas fontes é incapaz de citar. A história é pisoteada por alguém que, sem escrúpulos, mente deslavadamente, sobre tudo.” Todo o problema vem dos chamados “evangelhos” gnósticos – pano de fundo da obra de Brown. Eles retratam Jesus como um espírito superior, mas afirmam que Ele era um homem como qualquer outro. E se Jesus foi um homem qualquer, qual o problema de ter-Se casado e ter tido filhos? Uma rápida comparação entre os quatro evangelhos bíblicos e os apócrifos gnósticos mostra que entre eles há um abismo intransponível. O Evangelho de Tomé – outro dos livros gnósticos – afirma, por exemplo, que “quem não conheceu a si mesmo não conhece nada, mas quem se conheceu veio a conhecer simultaneamente a profundidade de todas as coisas”. E assegura que a salvação vem por meio do autoconhecimento, ou pela sabedoria, não pela fé. Confundindo a importância do autoconhecimento – num contexto freudiano – com salvação, mais e mais pessoas têm adotado esses livros não canônicos como sua Bíblia. Mas o conhecimento que salva, do qual fala a verdadeira Palavra de Deus, consiste em conhecer a Deus e a Jesus Cristo (ver João 17:3). Pretender que os chamados “evangelhos” apócrifos tenham o mesmo peso e confiabilidade dos Evangelhos canônicos é desconhecer a história bíblica. Além de os apócrifos gnósticos terem sido escritos depois dos quatro evangelhos, Mateus, Marcos, Lucas e João são os únicos relatos que foram, ou escritos por testemunhas oculares da vida de Jesus, ou corroborados por elas. E é bom deixar claro que a igreja primitiva já aceitava a inspiração divina dos quatro evangelhos muito tempo antes de Constantino convocar o Concílio de Nicéia. Graças ao historiador Eusébio, sabe-se que 20 decretos foram promulgados em Nicéia. Nem um único diz respeito ao cânon. Entre a ficção de Brown e a Bíblia, qual você escolhe? INOCENTANDO O CULPADO  A revista National Geographic publicou um documento trazendo o que seria o ponto de vista de Judas Iscariotes sobre a crucificação de Cristo. O papiro de 31 páginas é conhecido como Evangelho Segundo Judas, e é datado entre os séculos 3 e 4. Segundo a imprensa, que divulgou bastante o assunto, acredita-se que o documento seja uma cópia de um original escrito por volta de 150 d.C.  De acordo com o doutor em Novo Testamento pela Andrews University e especialista em Novo Testamento, Origens Cristãs e Grego Bíblico, Wilson Paroschi, o Evangelho de Judas consiste numa composição feita por gnósticos cainitas, seita herética do início do cristianismo. “Essa heresia consistia numa estranha mistura de tradições cristãs, mitologia grega e religiões orientais”, explica ele. “Não é fácil descrever o gnosticismo em poucas palavras, mas em linhas gerais, os gnósticos rejeitavam o Deus do Antigo Testamento, como sendo uma espécie de deus inferior (demiurgo) e repleto de más intenções, e alimentavam sentimentos anti-semitas. Por causa disso, eles negavam o relato da Criação de Gênesis e adotavam em seu lugar uma teoria das origens muito complexa, caracterizada por conceitos extraídos principalmente da filosofia e mitologia gregas. O Evangelho de Judas, na verdade, apenas reflete as crenças desse grupo.”  A revista Época de 19 de fevereiro admite que, “como o Evangelho de Judas é muito posterior ao tempo em que os eventos teriam ocorrido, não se pode nem mesmo tentar buscar algo nele sobre a figura histórica de Judas”. Então, por que tanto falatório na mídia sobre o manuscrito? A National Geographic Society pagou algo em torno de um milhão e meio de dólares para poder divulgar o documento. E para tentar obter o retorno do investimento, criou uma trama sensacionalista, apresentando o tal evangelho como “o mais autêntico e confiável de todos”. Interesses puramente comerciais. “Quando olhamos para os evangelhos canônicos (Mateus, Marcos, Lucas, e João), vemos que todos eles, conquanto diferentes entre si, apresentam a vida e os ensinos do mesmo Jesus. Há unidade de pensamento e em todos eles o ponto central do evangelho é o sacrif] ]>

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