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O Bicho Folharal

Cansada de ser enganada pela raposa e de não poder segurá-la a onça resolveu atraí-la à sua furna.

Fez para esse efeito correr a notícia de que tinha morrido e deitou-se no meio da sua caverna, fingindo-se de morta.

Todos os bichos vieram olhar o seu corpo, contentíssimos!

A raposa também veio, mas meio desconfiada ficou olhando de longe. E por trás dos outros animais gritou:

– Minha avó, quando morreu, espirrou três vezes! Espirrar é sinal verdadeiro de morte.

A Onça, para mostrar que estava morta de verdade, espirrou três vezes. A raposa fugiu, às gargalhadas.

Furiosa, a onça resolveu apanhá-la ao beber água. Havia seca no sertão e somente uma cacimba ao pé de uma serra tinha ainda um pouco d’água. Todos os animais selvagens eram obrigados e beber ali.

A onça ficou à espera da adversária, junto da cacimba, dia e noite. Nunca a raposa curtiu tanta sede.

Ao fim de três dias já não agüentava mais…

Resolveu ir beber de qualquer maneira. Achou um cortiço de abelhas, furou-o e com o mel que dele escorreu untou todo o seu corpo. Depois, espojou-se num monte de folhas secas, que se pregaram aos seus pêlos e cobriram-na toda.

Imediatamente, foi à cacimba. A onça olhou-a bem e perguntou-lhe: – Que bicho és tu que eu não conheço, que eu nunca vi? Respondeu cinicamente a raposa:

– Sou o bicho Folharal.

– Podes beber – replicou a onça.

Desceu a rampa do bebedouro, meteu-se na água, sorvendo-a com delícia. E a onça lá em cima, desconfiada, vendo-a beber demais, como quem trazia uma sede de vários dias, murmurava:

– Quanto bebes, Folharal!

Mas a água amoleceu o mel e as folhas foram caindo às porções. Quando já havia bebido o suficiente, a última folha caíra. A onça reconhecera a inimiga esperta e pulara ferozmente sobre ela, mas a raposa, que provou ser mais esperta, conseguira fugir.

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