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O ESTUDANTE E A "COLA"

 

 

Hoje vos apresentarei um problema que afeta bem de perto a vida estudantil, este problema é a “cola”.

Devemos de início dizer que esta palavra faz parte da gíria dos estudantes e tem o significado que todos vós conheceis de sobejo.

A “cola” está tão intimamente relacionada com a vida do aluno, que disse o diretor de uma escola em São Paulo: “A cola ergueu-se à altura de instituição nacional. Sem ela pára o ensino secundário, fenece o ensino superior”.

 

Onde se Cola?

 

Com maior ou menor intensidade cola-se em toda a parte do mundo onde existem estudantes.

Um de nossos escritores teve a ousadia, ou melhor a petulância de afirmar que os europeus copiaram este mau hábito dos brasileiros. Esta afirmativa é errônea e capciosa, porque muito antes de existir o Brasil já os estudantes europeus sabiam colar e talvez muito bem.

Cola-se nos exames de todos os graus: muito pouco na escola primária, mais nos cursos secundários e abundantemente nas escolas superiores.

 

Quem Cola?

 

Respondemos a esta pergunta sem pestanejar; colam os que não gostam de estudar e nada sabem, mas desejam prosseguir nos estudos. Muitas vezes esta é a realidade, mas nem sempre corresponde à verdade, porque há estudantes que embora saibam muito bem a matéria, encontram prazer em preparar cola e colar. São os coladores natos da classificação de Lombroso.

Além dos coladores natos, há os coladores de ocasião, que entram para o exame sem a intenção de colar, mas, ou porque o ponto que caiu é difícil, ou porque o professor é camarada; eles não resistem à tentação e colam.

Uma particularidade interessante com os coladores é esta: Eles acham que possuem certos direitos naturais e que, às vezes, os professores desrespeitam, como por exemplo o direito de não serem muito vigiados.

Um colador nato, incapaz de promoção por meios ilícitos, teve a fiscalizá-lo um padre que o não deixara nem mover-se. Nada podendo fazer, entregou a prova em branco, mas, observou ao examinador: Sr. Padre, eu sou da Congregação Mariana e creio que não me fica muito bem ser reprovado; veja lá o que faz.

 

Espécie de Cola

 

É difícil uma classificação das infinitas modalidades de cola, talvez nem Lineu com todo o seu método e prática conseguiria uma classificação completa.

O professor Flamínio Fávero, apresentou a seguinte classificação: a maneira antiga e a moderna.

A antiga seria um assopro do colega próximo, um pousar de olhos na prova do companheiro que está mais perto; alguns pedacinhos de papel preparados com antecedência, dependendo do professor, se é camarada, até os cadernos e livros entram em cena.

Se o professor é vivo e está sempre atento, se torna mais difícil e novos processos são tentados. Mas isso tudo é velharia e rotina; hoje em plena era da aviação, do rádio, da energia atômica, os coladores estão introduzindo métodos novos e mais eficientes.

Há algum tempo, um moço de Guaratinguetá, idealizou o seguinte método para colar: Tomou toda a matéria e a imprimiu exatamente no formato de um jornal. Como naquele tempo se usava o tinteiro para molhar a pena, ele derrubou, a propósito, a tinta em cima da carteira, solicitando ao professor licença para colocar o jornal sobre a carteira. Tendo o jornal com a parte da matéria pedida, foi fácil transpô-la para a prova.

O professor Almeida Júnior fez uma classificação da cola em: autocola e heterocola.

Autocola é a que o estudante faz e fornece a si mesmo, enquanto heterocola é a que outros lhe fornecem, ou ele fornece aos outros.

O nosso ensino está tão desmoralizado, que, às vezes, é o próprio professor que fornece a cola para favorecer a classe toda ou alguns afilhados. Professores que muitas vezes não dão aulas, em compensação dão cola para os alunos.

Em exames de madureza no interior do Estado de S. Paulo, houve colégios onde o ponto era vendido de dois a cinco cruzeiros (note que isto foi escrito em 1952) aos candidatos aos exames. O trabalho dos alunos era apenas copiar o ponto.

Há diretores de estabelecimentos que também fornecem cola. Um destes em Minas criou fama e grande clientela. Notai bem, nesse colégio as salas de aula eram servidas por uma rede de tubos, onde circulavam colas que iam ter às carteiras dos alunos.

Num concurso havido numa das cidades da Itália, um dos candidatos se distinguiu pela vasta cabeleira que usava. Fez prova escrita magnifica. Verificou-se depois que por baixo da cabeleira vinha um par de fones, e durante a prova uma emissora transmitiu todo o ponto.

As histórias poderiam ser multiplicadas, porque conhecemos outras; uma idêntica aconteceu em minha classe de grego como está relatada no capítulo, “A Simulação como Arma para Vencer”. Sigamos agora um rumo diferente.

 

O Outro Lado da Moeda – As Conseqüências da Cola

 

Tudo isso que apresentei até agora é o anverso da medalha; agora passemos ao verso, o aspecto doutrinário e educativo do assunto.

Prezados jovens, se alguns têm o hábito de colar nas provas, então prestar o dobro da atenção ao que vou dizer.

O Professor Flamínio Fávero fez uma palestra no programa “Entrevistas Médicas” sobre a influência da cola na personalidade. Ele, em resumo disse o seguinte: O estudante que cola terá complexos toda a vida subseqüente”.

As conseqüências da cola podem ser: intelectuais, morais e espirituais.

 

Conseqüências Intelectuais

 

Estas podem ser resumidas numa só palavra e a melhor é esta: ignorância.

A cola deve ser combatida, porque é um dos maiores adversários do estudo. Há uma legião de ignorantes que venceram nos exames e conquistaram o diploma pela cola.

Os jornais há pouco tempo noticiaram o caso de um advogado, no Rio de Janeiro, que era analfabeto; este não passou colando, mas antes comprara um diploma.

O perigo que esses falsos sabedores representam para a sociedade é bem fácil de imaginar.

Prezados estudantes, queremos mostrar-vos que o aluno que se entrega a esta prática para enfrentar os exames, não pode ser no futuro um obreiro eficiente.

Que podemos esperar do médico que passou colando, talvez que seja um charlatão, que em vez de curar, mate.

Se for engenheiro não dará estabilidade às construções; se for advogado, perderá as causas; se for professor, nada poderá ensinar aos alunos.

Quantas faltas e tolices não cometerão os que adquirirem seu diploma dessa forma.

Qual é o objetivo da escota?

Escota é sinônimo de preparação para a vida. Tanto em casa como na escola, o esforço do estudante deve ser no sentido de aprender eficientemente e passar a outros os conhecimentos adquiridos.

Estudar constitui o maior fator de progresso para o indivíduo, para a família e para a Pátria; mas o colador insiste em não estudar, em não fazer esforço. E sem esforço o que conseguiremos na vida? Absolutamente nada.

As vitorias fáceis não têm valor, as vitórias que entusiasmam são as que conseguimos com grande esforço e tenacidade.

 

Conseqüências Morais

 

Estas são piores do que as intelectuais, porque o colador está começando a sua vida de falsificações. Habitua-se à mentira e à fraude e pode enveredar mais tarde pela senda do crime. Muitos se tornam falsificadores de cheques e fazedores de moeda falsa.

Não pode merecer a mínima confiança quem se firmou na vida apoiado em processos ilícitos.

O estudante de elevada formação nunca deve lançar não de tais esteios para vencer.

A pátria deve contar convosco, como honestos obreiros da estruturação de sua grandeza material e sobretudo moral.

Os jovens em nossas escolas devem formar hábitos corretos e sadios, e os que colam não estão formando bons hábitos e e

dificando o caráter em bases sólidas.

 

Conseqüências Espirituais

 

Após as conseqüências intelectuais e morais, há conseqüências espirituais, e estas são mais importantes ainda, porque são eternas e destas depende o nosso destino futuro.

Que diria Cristo sobre a cola? Ele a condenaria com toda a veemência, porque colar é mentir. O que o aluno está pondo na prova não é a verdade, pois não representa aquilo que a pessoa sabe, logo é mentira. O que diz a Bíblia do mentiroso? Apoc. 22:15. Ele não terá entrada no reino de Deus. Colar é furtar e o oitavo mandamento diz: “Não furtarás.”

 

Como Vencer a Tentação de Colar?

 

Rogando a Deus forças para vencer esta falta. Entregando-nos a Cristo para que Ele dirija a nossa vida.

A passagem de Fil. 4:8 devia estar sempre na mente do jovem que é tentado a colar. Paulo diz:

“Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isto o que ocupe o vosso pensamento”.

Ellen G. White escreveu no livro Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, pág. 106, o seguinte:

“Desde a infância necessitam os jovens que uma firme barreira se levante entre eles e o mundo para que a influencia deste os não possa afetar”.

Os professores têm um Código de Ética, pelo qual devem pautar sua vida profissional, mas existe também um pequeno livro intitulado: Ética do Estudante. O estudo deste opúsculo nos fornece subsídios úteis e interessantes para o assunto que estamos apresentando. Eis alguns deles:

“Honra o diploma que um dia conquistares, mas não o coloques acima do teu saber”.

“Sê honesto em tudo o que pensares, disseres ou fizeres”.

“Lembra-te sempre de que a verdadeira grandeza está na Virtude e não no êxito dos negócios ou da carreira”.

“Nunca julgues o valor dos homens pelo poder ou pelas honrarias que desfrutam, julga-o antes pelo teor do caráter que se revela nas atitudes, na humildade e na simplicidade”.

 

Qual a Atitude dos Professores Diante da Cola?

 

A didática moderna aconselha que os professores afastem dos exames os pontos feitos, que podem ser trazidos já elaborados de casa.

Devemos trabalhar no sentido de modificar a mentalidade dos que incidem nesta falta. Talvez não vamos conseguir os resultados almejados, procurando modificar a maneira errada e doentia de pensar de alguns alunos quanto à cola, mas ao menos sejamos rigorosos em não permitir tal ato nos testes e nos exames, para que não passem de ano e se formem e façam concorrência àqueles que trabalham honestamente.

A vigilância deve ser ativa e eficaz, completando-se a fiscalização pelo castigo severo e irrevogável dos transgressores.

Devemos ser firmes, porque os alunos sabem que, se não é possível colar, só há um caminho a seguir, é estudar.

 

Duas Campanhas Meritórias

 

O professor Alfredo Gomes, diretor do Colégio Estadual Fernão Dias Leme, dirigiu uma mensagem expressiva de exortação antes dos exames aos alunos do Estabelecimento que dirige.

Quero que noteis bem suas oportunas palavras:

“Aos alunos cabe, por sua vez, corresponder plenamente aos desejos da direção e à dedicação do carpo docente, alargando seus conhecimentos, desenvolvendo sua cultura, empenhando-se em aprimorar o caráter pela conquista de uma personalidade bem formada, mantendo-se fiel e uma disciplina consciente, fazendo-se enfim, dignos do bom nome do Colégio, para que este se orgulhe dos alunos e a pátria de seus jovens filhos por saberem cumprir convenientemente o dever.

“Se forças humanas falharem, tentando-os aos desvirtuamentos das obrigações e costumes escolares, então recorram às forjas do espírito, alteando o pensamento até Deus, fonte da sabedoria, e unidos com Ele pela oração faça ouvir o canto da virtude sobre a fraqueza momentânea e caminhem firmes e contentes pela trilha certa da responsabilidade e da perfeição”.

Os estudantes do Colégio Bandeirantes em São Paulo fizeram uma campanha entre si, para extinguir este mau hábito naquela escola. Não achais que é uma atitude honrosa, louvável e digna de ser imitada por outras escotas? A idéia está lançada para que alguém a espose e faça frutificar entre nós.

 

Conclusão

 

Prezados jovens, procurai ser honestos em toda a vossa vida, tomai uma resolução firme e inabalável de não colar e com a ajuda de Deus sereis vitoriosos.

 

Notas:

Palestra proferida na Reunião de Cultura Geral, no dia 26 de agosto de 1952.

Obtivemos excelentes subsídios para este tema, de um discurso de formatura, de 1928, do Professor Antônio de Almeida Júnior.

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