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O JOVEM E SEU IDEAL

 

 

Ideal – palavra muito vaga, empregada sem muita propriedade.

Se consultarmos os dicionários concluiremos que eles são omissos em definir ideal.

Rui Barbosa, falando à mocidade de nossa Pátria, num de seus eloqüentes discursos, afirmou que: “ideal não se define, mas nós o vemos na vida das pessoas. É o amor abnegado, o interesse pela sorte da humanidade”.

Ideal é tudo que alheia o homem de si mesmo e o eleva a inspirações mais sublimes e a consecuções mais elevadas.

Poderemos ainda definir ideal como aquilo a que mais alto aspiramos, o alvo de nossos desejos, o esforço em demanda da perfeição.

Disse José Ingenieros:

“Os poetas cantam um ideal, o sábio define ideal, o santo ensina ideal, o herói executa ideal” e eu acrescentaria – o jovem adventista deve possuir um ideal elevado e não medir esforços e sacrifícios para alcançá-lo.

Se a mocidade é idealista, deveríeis vós jovens adventistas ser diferentes? Não, deveríeis ser os mais idealistas, porque temos diante de nós o trabalho mais sublime deste mundo – A salvação de almas para Cristo.

“Mais elevado do que o sumo pensamento humano pode atingir, é o ideal de Deus para com Seus filhos.” (Educação, pág. 18)

Pensemos um pouco. Será que há vantagens em possuir um ideal? O que seria do nosso mundo se não fossem os idealistas, que se gastaram e se sacrificaram para que tivéssemos muitas das coisas que hoje possuímos?

Estudando a biografia dos grandes benfeitores da humanidade, concluímos que todos tiveram um ideal e lutaram denodadamente até atingi-lo. Ilustremos com fatos verídicos esta nossa afirmação:

1 – Oswaldo Cruz teve o alvo de livrar o Rio de Janeiro da febre amarela, não sendo fácil a tarefa, pois, lutou com a ignorância e incompreensão reinantes naquela época, mas graças a perseverança de que era possuído viu seus esforços coroados de êxito. Para isto ele se inspirou na frase que adotou como lema:

“Não esmorecer, para não desmerecer”.

2 – Santos Dumont desde criança teve o desejo de voar, e após anos de estudos, experiências e tentativas conseguiu o seu objetivo. Se a glória do invento da aviação coube a nossa pátria, nós a devemos a um jovem sonhador e idealista.

3 – Irineu Evangelista de Sousa, conhecido pelo título de Visconde de Mauá.

Foi graças a este idealista nacional, que o Brasil teve as suas primeiras estradas de ferro, a construção do telégrafo submarino e outros grandes empreendimentos que contribuíram para a grandeza da pátria brasileira. Gastou nestes empreendimentos mais de mil contos de réis do seu próprio bolso. Por que fez tudo isto? Porque tinha objetivo de engrandecer a Pátria.

Esta frase de sua autoria define-lhe completamente a personalidade,

“A tenacidade que Deus plantou em minha vida era indomável”.

4 – Castro Alves.

Foi a luta pelo ideal de ver extinta a escravidão no Brasil, que levou este notável poeta a dedicar a sua pena de ouro a favor dos humildes africanos.

5 – César Lates.

Ainda jovem já é conhecido no mundo da ciência por suas descobertas.

6 – General Rondon.

O maior sertanista do Brasil, hoje mui merecidamente elevado ao mais alto grau do nosso exército – Marechal. Rondon tem dedicado toda a vida a um ideal – a pacificação dos índios. Hoje, apesar de seus quase 90 anos, pois nasceu em 1865, continua trabalhando com todo o denodo a favor da causa que abraçou, a de mostrar que os índios têm o direito de serem tratados como seres humanos, idênticos a nós.

Talvez tereis notado que os exemplos apresentados são apenas de brasileiros e o fiz a propósito, porque para falar sobre ideal não é preciso ilustrar com Pasteur, Benjamin Franklin, Abraão Lincoln e muitos outros estrangeiros, basta citar exemplos de nossa terra que os temos em abundância.

 

Exemplos de Idealismo Bíblico

 

1º) José é um dos jovens mais idealistas da Bíblia.

Os seus sonhos vêm a se transformar em ideais mais tarde.

O seu ideal de pureza sempre será citado como exemplo a nossa mocidade.

2º) Moisés sonhava com o livramento do povo de Deus.

3º) Paulo com seu ideal da pregação do evangelho a todo o mundo é uma figura que nos impressiona sobremaneira. Foi este ideal que o levou a sacrificar-se para que o mundo conhecesse a Cristo.

4º) Foi ainda o ideal da pregação do evangelho a todo o mundo, que fez com que os pioneiros deste movimento dessem o melhor de si e que entregassem os seus bens para a propagação das boas novas ao mundo necessitado.

A humanidade não possuiria seus bens presentes se alguns idealistas não os tivessem conquistado, gastando-se para que tivéssemos dias melhores.

Pensemos, o que seria de nossas casas sem a luz elétrica, o rádio, o jornal, a máquina de lavar roupa, a enceradeira, a máquina de escrever, a geladeira, o automóvel, o trem, o avião e tantas outras máquinas modernas inventadas por alguns espíritos idealistas!

Todas estas coisas foram criadas por pessoas que não estavam satisfeitas com o mundo em que viviam e almejavam algo melhor.

Não apenas os indivíduos isoladamente, mas também as nações como uma coletividade precisam ser idealistas. Foi o ideal da liberdade, que levou a nação brasileira a trabalhar pela nossa independência, começando com Tiradentes até chegar a muitos que contribuíram para a nossa libertação do jugo português.

A mola mágica do idealismo é que tem impulsionado a todos os setores da atividade humana a projetar-se.

Os cientistas na quietude dos laboratórios têm gastado o melhor de sua vida com o objetivo de tornar sua pátria famosa.

É o ideal que leva os literatos a se esmerarem para que seus livros transponham as fronteiras da pátria.

Os ideais podem ser comparados a faróis, que de trechos em trechos iluminam a estrada da vida, mostrando-nos o alvo que devemos atingir.

Não achais, prezados estudantes, que vale a pena ter um ideal? Alguém escreveu: “Os anos enrugam o rosto, renunciar ao ideal enruga a alma”.

O jovem sem ideal fracassa diante das primeiras dificuldades, fraqueja ante o primeiro obstáculo a vencer.

Se há em vós o desejo de serdes mais úteis á causa do Mestre, não deveis ficar satisfeitos com o que sabeis, mas deveis ter o alvo de progredir mais e mais lutando com todo o ardor para que este se torne uma realidade em vossa vida.

O nosso Salvador muito espera de vós, mocidade idealista, e ciente estou de que não ireis decepcioná-lo.

Envelhecemos não por ter vivido certo número de anos, mas sim por abandonarmos o nosso ideal.

Os nossos votos são que os vossos anseios sejam abençoados por Deus e que cada jovem que nos ouve alcance o seu ideal.

 

Nota – Esta palestra foi inspirada no livro O Homem Medíocre de José Ingenieros e proferida para os nossos jovens em 1954.

 

“Estremeceu a Pátria; viveu no trabalho e nunca perdeu o ideal”.

Rui Barbosa

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