Autor: Pr. Odailson Fonseca – Ministério Jovem da Associação Sul-Riograndense
Introdução
Na Inglaterra, pouco tempo atrás, aconteceu uma tragédia. Mary Grace, viúva, 55 anos, pulou de seu apartamento no 12º. andar deixando como herança apenas um bilhete: “Não agüento mais, ninguém me liga, nem escreve, não tenho amigos, nem quem chore por mim.” Apenas dois dias depois, no mesmo edifício, outra viúva, Kellen York, 51 anos, foi encontrada morta em seu próprio quarto, com uma overdose de medicamentos. Junto à cabeceira de sua cama, outro bilhete: “Se ao menos eu soubesse que minha vizinha era tão solitária, poderíamos ter sido boas amigas.”
Histórias assim fazem a gente pensar. Pessoas estão vivendo, sofrendo e morrendo sozinhas. Isoladas umas das outras. Nem percebem que estão todas com a mesma doença. E nós também estamos misturados nessa multidão de gente. Numa mistura de sonhos desfeitos e carências intermináveis. Todos desejando ser felizes. Todos apertados nesta imensa panela chamada mundo.
Um Milagre! – João 6:3-5
O dia começou com uma notícia absurda. João Batista, primo de Jesus, havia sido friamente decapitado. O impacto dessa informação foi sentido por Cristo que expressou aos discípulos a necessidade de um descanso bem merecido. Atravessando o Mar da Galiléia, e na tentativa de livrar-se um pouco das multidões onipresentes, foi em direção a Betsaida. Subiu uma montanha, e buscou ali momentos de repouso a sós com o Pai.
De repente, barcos chegam de todos os lados. Gente surge de todos os caminhos. O esconderijo do Mestre foi descoberto! E Jesus, lá em cima e ainda oculto, observava o povo que não pára de vir. Até que se formou uma imensa multidão incontável de pessoas carentes da vida eterna. Aos olhos compadecidos do Mestre eram como “ovelhas dispersas do Seu Pastor”. Imediatamente, Ele surgiu e desceu a montanha.
Foi um dia único. Momentos especiais encheram de alegria o coração de cada um. Ali, parecia que o Céu havia encostado na Terra e a comunicação humano-divina invadia os portais da eternidade. A intensidade das horas foi tanta que, diante do Sol da Justiça, ninguém notou o movimento do sol de um horizonte a outro. O povo esqueceu a fome, o cansaço, o tempo. O dia passou e, sendo um lugar deserto, os discípulos aconselharam Jesus dispensar a multidão. Ele, no entanto, apavorou cada discípulo perguntando: “onde compraremos pães para lhes dar de comer?”
Pavor era pouco. O quê? Os olhos incrédulos de Felipe percorreram aquele mar de gente. O número ultrapassava 10 mil pessoas que, na verdade, pareciam bem mais com 10 mil estômagos vazios. Fazendo seus cálculos, qualquer distribuição de migalhas já custaria 200 denários, ou seja, o salário de 200 dias de trabalho. De forma que o embaraço era total no coração de cada discípulo que já não entendia mais nada.
A solução veio com André, que encontrou um garoto. Parecia mais um desbravador prevenido que lembrou de trazer seu lanche de casa. Mas ficou tão fascinado com as palavras de Jesus que esqueceu de almoçar. Imediatamente foi levado para um encontro face a face com o Mestre.
Parecia Impossível – João 6:8 e 9
Na lancheira do garoto, lá estavam sanduíches de pão com peixe. Essa era a comida mais simples e barata de toda a Palestina. Pão de cevada era mais barato que trigo, e peixinhos secos de sobremesa. Aos olhos incrédulos de André havia um sorriso de ironia. Em seus cálculos seria um pão para 2000 pessoas e, de sobremesa, meio peixe para 2500. Seria a festa mais econômica e desastrosa do planeta. Mas Cristo, levando a sério o humor de André, desespera os discípulos com uma ordem assustadora. João 6:10. Estavam todos em pé. Cinco mil homens, mais mulheres e crianças. Esta ordem era um sinal do que aconteceria em seguida.
O Povo Está com Fome – João 6:11 e 12
De todos os milagres de Cristo este é o único relatado nos quatro Evangelhos. Tanto Mateus, quanto Marcos, Lucas e João, não disfarçaram sua surpresa diante deste acontecimento. Eles ficaram tão atônitos quanto nós ao vermos que aquele povo todo não foi meramente alimentado – foi superalimentado. No relato de Marcos é usada a expressão “se fartaram.” Isto significa que 10 mil pessoas comeram até não agüentarem mais. Qualquer previsão por baixo daria pelo menos 50 mil pães entregues naquela tarde. Em uma padaria de tamanho médio, são vendidos entre 800 e 1.000 pães em um dia de bom movimento. Quer dizer que a quantidade ultrapassou mais de 50 vezes o que é entregue em padarias por aí. E a Bíblia ainda nos informa que a abundância de pães foi tão absurda que sobrou 12 cestos cheios.
Isto é viver com Cristo. Enquanto os discípulos se beliscavam para acreditar se era real, nós somos convencidos que com Jesus, as dificuldades da vida se derretem em um mar de possibilidades divinas.
Mas o tempo passou, a multidão cresceu e hoje não somos mais 10 mil pessoas. Na verdade, somos mais de 7 bilhões de seres famintos. Bilhares de seres meio vivos sem perspectiva de dias melhores. Solitários como na introdução desta mensagem. Padecendo em segredo na incessante busca pela paz. Jovens com sorrisos plastificados e lembranças imundas das atitudes inconseqüentes. Gente que talvez até tenha o que comer, mas não sabe de onde veio nem para onde vai. São trabalhadores, donas de casa, internautas, universitários, geração teen, e tantos outros grupos, tribos e gangues. Somos participantes dessa multidão. Estamos todos longe de Casa – distantes do Céu. Temos fome de Pão – que sacie nossa alma aflita. E, cansados de tantas miragens, sonhamos com dias melhores.
Mas há uma diferença. Uma tremenda diferença. O dia está anoitecendo, o sol se pondo e o povo sentindo fome. Porém estão surgindo outras merendas que, embora não sejam divinamente multiplicadas, estão se espalhando entre nós e, pior, tentando saciar a fome, roubando o lugar do Pão da Vida. O mundo vem tentando se alimentar com o humanismo moderno, ensinando que o homem, na verdade, é um ser divino , com autoridade acima de qualquer coisa, capaz de decidir o que é moralmente certo – mesmo que defenda o adultério disfarçado no uso preventivo da camisinha, ou a relação entre pais e filhos desprovida de qualquer limite e autoridade. Outra merenda é a filosofia existencialista que vem travestida em slogans positivistas como “você é o dono da sua vida”, “você dirige seu futuro”, ou “só depende de você!” Isto se revela na enxurrada de livros de auto-ajuda que têm invadido cursinhos e universidades, além de prometer sucesso fácil a jovens profissionais. O jovem atual convive com o hedonismo, que sob a ordem de curtir a vida, tenta extrair o “prazer máximo e agora” a qualquer preço – mesmo que perca a vida em “rachinhas” de carro nas grandes cidades, vire um alcoólatra adepto do “beba com moderação”, ou não ache o caminho de casa após uma festa rave, onde a música altíssima e ritmos hipnóticos são regados a ecstasy e outras drogas com suas cores piscantes. Em pleno século XXI, o mundo também tem se voltado para o orientalismo e todas as suas magias em forma de pirâmides, astrologia e esoterismo. Muitos adolescentes brincam com duendes e se divertem com superstições ocultistas. As crianças agora têm um novo herói chamado Harry Potter, que voa em vassouras e chama de “trouxa” quem não faz magia branca. Enquanto isso, a ciência evolucionista continua encantando o mundo acadêmico e, depois de tentar clonar a imortalidade, promete a erradicação da dor com a conclusão do mapeamento genético no projeto Genoma.
Enfim, são intermináveis as idéias, pensamentos, filosofias e merendas que não passam de algodão doce – coloridas e saborosas, mas jamais vão matar a fome de alguém. E neste mesmo planeta, nós cristãos – que ocupamos colégios, universidades, academias, hospitais, repartições públicas,
e todos os locais possíveis – ouvimos a voz de Deus dizendo: “IDE! Dai-lhes de comer.” Deus nos ordena que façamos a diferença, que sirvamos de coração e vida. E, imediatamente refutamos o chamado ao serviço com respostas evasivas : “eu, Senhor?”, “que diferença farei?”, “não tem ninguém pior do que eu!”, “ah, quando crescer…”, e aí por diante.
As Lições – Deus Faz o Milagre
Mas você tem duas poderosas lições a aprender com aquela surpreendente festa em Betsaida. Sabe quais? Primeiramente, deixe eu lhe perguntar uma coisa: quem fez o milagre? Quem multiplicou o alimento? Jesus. Foi Cristo que realizou a maior surpresa de todas as festas. Ele usou com sucesso exatamente aquilo que os discípulos julgaram insuficiente. Enquanto eles duvidavam, Deus abençoou. É sempre Deus quem multiplica a mensagem, não você! Às vezes, o jovem tem a mania de complicar o que Deus simplificou. Se a procura é imensamente maior que a demanda, o problema é de Deus. E se a obra é dEle, Ele mesmo proverá meios e oportunidades para sua realização. Pois toda a ordem divina vem também misturada a uma promessa divina. O que está em jogo é o caráter de Deus, sua capacidade de multiplicar milagrosamente as migalhas de serviço de cada um. Portanto, não coloque o poder de Deus numa camisa de força. Ele sempre nos surpreende. E o que parece humanamente insignificante, torna-se divinamente abundante.
Quer alguns exemplos? Nos primeiros séculos você olharia um grupinho de gente que era chamado de “cristãos”, veria suas peles rasgadas nas arenas romanas, seus corpos vivos se derretendo em fogueiras públicas, e diria “isso vai acabar! Não durará muito”. Mas o tempo foi passando e, já no III século, o próprio imperador romano Diocleciano confessou: “não entendo! Quanto mais morrem, mais se multiplicam. Parece que o sangue derramado destes cristãos vira semente.” Ou talvez, anos depois, você olharia outro grupo de jovens orando em 1848 sobre uma pilha de 1000 jornais, após gastarem todos os 64 dólares que possuíam, e questionaria o sucesso gráfico daquele material a ser distribuído. Mas era “A Verdade Presente”, o primeiro periódico da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que hoje já possui mais de 58 editoras imprimindo e distribuindo toneladas de livros ao redor do mundo, em mais de 700 línguas e dialetos. Viu como Deus age? Em 1868 você veria um homem humilde chamado Goodle Bell, que numa noite fria levou 12 juvenis ao sótão de sua casa e começou ensiná-los como numa sala de aula. Muitos olhariam e diriam: “de onde uma escola assim vai pra frente?”, “impossível crescer um projeto deste jeito”, “boa intenção, mas vai acabar logo!”. Mas, do agente multiplicador de Deus não se zomba. Mais de um século depois a escolinha cresceu e hoje o Sistema Educacional Adventista é um dos maiores do mundo, com uma rede de 4.500 escolas primárias, mais de 1.010 colégios e 93 universidades. Você pode confiar nas promessas embutidas nas ordens de Deus.
Precisamos Distribuir
E a segunda lição desse milagre é para mexer com você que está sentado aí no banco. Preparado? Agora responda: tudo bem, foi Jesus quem multiplicou os pães, mas quem distribuiu? Leia todo o relato bíblico e você não verá Cristo entregando pão para ninguém na multidão. Não foram das mãos de Jesus que o povo faminto recebeu o alimento. No processo do milagre, o poder multiplicador de Deus teve um grupo de intermediários que levou os pães aos grupos sentados na grama. Foram os discípulos que fizeram todo o serviço de entrega. Sabe o que isto significa? Deus é quem multiplica os pães, mas são os homens que distribuem.
Pense um pouco no processo desse milagre. Deus, o Pai, gerava poder através de Deus, o Filho, onde os pães se multiplicavam inexplicavelmente. Então, das mãos divinas os discípulos pegavam “pães quentinhos” e entregavam à multidão. Isto é, 2 mãos divinas passavam o alimento a 24 mãos humanas que repassavam a mais de 20 mil mãos famintas. Quanto mais os discípulos distribuíam, mais eles pegavam com Jesus. Percebem? Os pães se multiplicavam nas mãos de Jesus, mas eram as mãos dos discípulos que se estendiam de Cristo para o povo carente. Aqueles jovens discípulos foram canais de transmissão da benção que vinha do próprio Deus.
O Que Vamos Fazer Com os Pães?
Somos os discípulos de Jesus, certo? Temos o Pão da Vida nas mãos com um poderoso chamado ao serviço. E nunca esqueça que é na proporção que damos que continuaremos a receber. Porque Deus multiplica os pães mas somos nós os que ajudamos a distribuir. Ou seja, você, querido jovem, é o meio de comunicação entre Jesus e o mundo. É a maior mídia dos Céus para veicular a propaganda do Reino de Deus. Assim como o milagre dos pães dependia da distribuição dos discípulos, o milagre da solidariedade máxima nestes últimos milésimos da História também está condicionado às nossas mãos.
Quer saber o mais importante? Os discípulos só se empolgavam nessa distribuição com Cristo porque davam aquilo que recebiam. A verdadeira motivação para o serviço estava no fato de entregarem o mais rápido possível o que recebiam e, imediatamente, voltarem para Jesus e pegar mais. Agora vamos imaginar um jovem diferente. Ele recebe uma braçada de pães quentinhos das mãos poderosas de Jesus. Mas a correria da vida, a agenda superlotada ou o namoro apaixonado ocupam tanto seu tempo que ele resolve não repassar o que recebeu de Deus. Esquecem a missão. As mãos estão cheias de pães, e ele continua tocando a vida do seu jeito. Trabalha, navega na Internet, usa o celular, vai de carro de um lado para outro e os pães ficam lá, esperando serem distribuídos. No outro dia o que acontece? Aqueles pães estão duros e amanhecidos. Nos dias seguintes já ficam envelhecidos e começam a fermentar. Passa uma semana e como está a missão recebida? Agora tudo já está azedado. Veio sol, chuva, neve, e o cheiro do bolor já é quase insuportável. Aquele jovem continua estudando, comprando roupas, vai à musculação, joga tênis, e Jesus? Pra quê? Se os braços ainda estão cheios de pães? Semanas depois, sua missão de serviço já está podre e cheia de moscas, mas, o pior de tudo, é que na mente dele está tudo bem. Pra que voltar animado para a igreja se ainda não esvaziou sua braçada de pães? Compreendeu a verdadeira lição desse milagre?
É só uma ilustração, mas em minhas mãos eu tenho aqui um tipo de pão. Este está fresquinho e saboroso (mostrar um pão novo e bonito). É como o convite para servir que Deus faz a todos os jovens, os quais desejam apressar a volta de Jesus. É o chamado que cada jovem tem na consciência para estremecer os alicerces da indiferença de quem convive ao seu lado. Um pedido dos Céus para esta juventude romper os paradigmas, e detonar o explosivo poder de Deus deixando este mundo melhor. Mas, se você deixa o tempo passar, os pães podem ficar assim (mostrar um pão velho e embolorado). Como estes outros aqui que já foram abandonados lá em casa há mais de 15 dias. Se este é o estado dos pães após uma quinzena, o que dizer do jovem que já não faz nada há mais de seis meses ou até anos?
Conclusão
Como jovens, passamos pelo Batismo, Santa Ceia ou apelos de Semanas de Oração, e recebemos uma braçada de pães quentinhos que precisam ser distribuídos. Temos que esvaziar nossas mãos para sentirmos vontade de pegar mais com Jesus. Lembre-se que você só pode transmitir aquilo que recebeu de Cristo, e só pode receber à medida que comunica aos outros.
E você? Qual é o estado de seus pães? Está sempre trocando com Jesus? Quando se encontra com amigos, na escola ou no trabalho? O mundo lhe conhece pelo Deus que você ama? Ou não passa de um slogan de camiseta escondido embaixo da blusa? Em uma das suas citações mais fantásticas, Ellen White diz: é pelas relações sociais que a religião cristã entra em contato com o mundo. Cristo não deve ser escondi
do no coração (Como Conviver Com os Outros, p. 24). Isso significa que a verdadeira força jovem se traduz em atividades públicas de auxílio. A religião pura é intensamente prática e envolvente. A obra missionária nesta Igreja, que um dia começou com os jovens, também vai terminar com a forte participação dos jovens. O mundo não precisa de nossas esmolas, mas sim de uma vida inteira a serviço do Senhor.
Olhe suas mãos. O que há nelas? Migalhas que provam a atividade constante da solidariedade? Ou pães inteiros que estão embolorando por causa da negligência? O problema da juventude cristã não é a mão vazia de tanto distribuir, é a vida cheia de um cristianismo apodrecido pela desculpa da timidez ou vergonha. Há um pensamento que diz “se você quer conhecer a história de alguém, olhe para suas mãos”. Então você olha as mãos de Jesus e vê cicatrizes da solidariedade indescritível de um Deus que preferiu morrer a viver sem você. E esse mesmo Deus olha para suas mãos e encontra o que? Acomodação? Braçadas de pães envelhecendo no lugar de um cristianismo lindo e cheio de poder? Peça agora mesmo que Deus transforme suas mãos em canais de salvação. Que Ele mostre tudo o que pode ser em você, e através de você. Que você brilhe, conquiste, auxilie e, acima de tudo, que Jesus volte mais cedo graças a você e a mim. E não se assuste quando perceber que foi capaz de fazer muito mais do que podia imaginar.
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